domingo, 26 de outubro de 2014

Donna Tartt - O Pintassilgo [Opinião]

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Opinião: O Pintassilgo é um romance extenso, com cerca de 900 páginas, cuja história é centrada na vida do jovem norte-americano Theodore Decker. A acção começa quando este tem 27 anos, começando a narrativa por mostrar um Theo aterrorizado, num hotel holandês, vendo nas notícias se existe alguma referência à sua pessoa. Por intermédio de um flashback somos então transportados até ao tempo em que Theo tinha 13 anos e é vítima de um atentado num museu onde passeava com a sua mãe.

O que é narrado nesta altura é tão intenso que nos prende de imediato. 
Esta obra de grande envergadura tem a particularidade de se encontrar repleta de emoções dos mais variados tipos, facto que me levou a experimentar diversos estados de espírito ao longo da leitura, pois creio que me comovi, enfureci e até sorri com o pequeno Theo. Arrisco-me a afirmar que tão poucos livros desencadeiam no leitor sensações tão genuinamente díspares como a presente obra, facto ao qual não será alheio o tamanho da mesma.

Confesso que neste livro procurei fugir da minha zona de conforto, procurando uma trama num registo claramente mais dramático, embora com uns laivos de thriller nas páginas finais.

Uma outra característica pertinente que destaco é a seguinte: agora que se passaram uns dias desde que terminei a sua leitura, ainda me recordo do Theo com alguma comoção e nostalgia.

Apesar do título, o quadro O Pintassilgo de Carel Fabritius, pintor holandês do séc. XVII, é um elemento periférico na obra. Apesar das subtis considerações sobre arte, em grosso modo a obra debruça-se essencialmente sobre a vida de Theo, abarcando um período entre os seus 13 e 27 anos, bem como as sua acções que se afiguram como consequências da perda da mãe, explorando uma vontade de viver face a uma situação tão adversa quanto a morte de uma pessoa tão importante.
Como já mencionei em diversas alturas, trabalho com crianças e talvez por isso, tenha ficado ainda mais sensibilizada com o protagonista.

A obra acaba assim, por ter uma carga dramática intensa na medida em que abarca um leque de experiências de Theo bastante complicadas. Esse facto é ainda sublinhado pela narração, na primeira pessoa, sob a perspectiva de Theo. Este acaba por ser um protagonista atípico na medida que, condicionado pelo acidente que mudou a sua vida, se torna um anti-herói. Ainda assim, ele não omite as suas acções e o leitor rapidamente se apercebe que a sua conduta é pautada por algumas imoralidades.

Embora com papel secundário, a personagem Boris é extremamente importante na trama. Amigo de Theo, de nacionalidade russa e a braços com alguns dissabores, o seu sentido de humor face à árdua experiência de vida convida a alguma introspecção por parte do leitor.
Apesar de Boris ser um rapaz com tendências marginais, muitas foram as lições de vida que esta personagem apresentou.

Apesar de O Pintassilgo ser a terceira obra da autora Donna Tartt, gostei da forma detalhada e envolvente com que a história está dotada. O tamanho do livro não corresponde à morosidade da acção, pois ainda que com 900 páginas, O Pintassilgo é um livro que se lê muitíssimo bem, mau grado certas passagens serem mais difíceis de digerir pela intensidade dramática das mesmas, conforme já sublinhei. A trama tem poucos momentos monótonos e, como referi, rico em passagens de cariz dramático, suspense e alguns de natureza mais espirituosa.
A leitura desta obra deixou-me curiosa relativamente aos trabalhos anteriores da autora.

Atrevo-me a dizer que nunca li uma obra como esta, sendo o adjectivo que melhor se adequa à mesma é "memorável". Ainda hoje, volvidas algumas semanas, consigo relembrar com alguma facilidade a história de Theo e Boris e os seus ensinamentos.

O Pintassilgo apela pois a uma reflexão sobre o valor da vida, e sobre o crescimento forçado por acontecimentos traumáticos embora a grande lição que se retire desta obra seja, sobretudo, a preserverança.
Gostei muito!

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