Já há muito que não escrevia nada na rubrica das opiniões dos filmes que tenho visto (ultimamente, tirando a série Stranger Things, não vi nenhum que fosse impressionante) mas aproveitando que o realizador Ruggero Deodato será convidado no MoteLX deste ano, decidi escrever algumas considerações para o filme, em jeito de vos desafiar a ver esta obra prima do terror.
Estreou em Itália, país de onde é natural o realizador, em 1980, naquele que viria a ser o dia do meu aniversário. O filme, bastante inovador para a altura, mesclou o film footage à típica filmagem.
Portanto se achavam que o Blair Witch Project tinha sido o pioneiro no que concerne a uma filmagem amadora (como eu outrora achei, por exemplo), desengane-se. Holocausto Canibal tem uma parte que é em footage, para tornar mais realista a premissa do filme: um documentário na floresta amazónica que incidia num grupo de locais que tinham o canibalismo como meio de subsistência.
Esta temática já tinha sido explorada na década de 70 e creio que o primeiro filme sobre canibais também foi italiano: Il paese del sesso selvaggio de Umberto Lenzi. Portanto, este seria mais um filme sobre canibais. Porque se tornou tão polémico?
Diria que será por causa da inovadora filmagem em footage. Sem dúvida que este tipo de filmagem amadora confere uma sensação de maior realismo. O telespectador é privilegiado em assistir em primeira mão às atrocidades cometidas naquela floresta com uma sensação de que não houve qualquer tratamento das imagens. A ideia que fica, portanto, é que os eventos aconteceram tal como os vimos no documentário. Hoje em dia, este tipo de realização é mais comum.
O realizador tentou fazer uma campanha de marketing que não correu nada bem e que acabou por resultar na sua prisão. Ele pediu ao elenco do filme que "desaparecesse" uns tempos (tarefa que me parece mais difícil nos dias de hoje com as redes sociais...) e houve quem pensasse que tudo o que está no filme fora real e que aqueles três jovens teriam sido mesmo comidos vivos.
Porém, para mim, a controvérsia do filme reside na violência infligida aos animais. E sim, as mortes dos animais são reais (creio que este facto hoje ainda se torna mais polémico devido à maior consciencialização sobre a vida animal). Além de que existem alguns actos de selvajaria e violação dos ocidentais aos aparentes pacíficos indígenas. Não deixa, a meu ver, de ser uma chamada de atenção ao confronto de culturas tão díspares e o desrespeito que muitas vezes se instala nestas circunstâncias. Mais não posso revelar, evidentemente.
Quanto à trama, creio que se torna previsível o destino dos jovens que filmaram o documentário a partir do momento em que uma nova equipa se desloca à Amazónia com o propósito de os resgatar. A primeira parte é talvez mais morosa, mostrando esta equipa no trato com os locais, mostrando os seus hábitos de vida até se depararem com as fitas. A segunda parte, já em formato de documentário, mostram as gravações dos jovens e é aqui que o terror começa.
Portanto, Holocausto Canibal é um filme que é chocante na actualidade, imagino as reacções aquando a sua estreia. E por essa mesma razão, considero-o uma obra prima em matéria de cinema de terror. Atrevam-se a ver um filme diferente, sem recurso às modernas tecnologias de efeitos especiais que abundam nos dias de hoje. E porque não, posteriormente, trocar umas impressões com o realizador no evento mais aguardado pelos fãs do género.
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