Opinião: A minha análise mais imediata a este livro prende-se com algumas semelhanças com outra obra que li, não publicada em Portugal, denominada The Girl Before e escrita por Rena Olsen. E vou, sucintamente, mencionar as duas maiores razões que justifiquem esta minha percepção:
a) a história:
Falamos de uma trama que, sem querendo desvendar demasiado, se debruça sobre um grupo de raparigas que terão sido raptadas e colocadas num espaço confinado. É igualmente dada uma nova identidade às vítimas, que são torturadas e violadas.
Porém, este título destaca-se por o cenário ser equiparado a um jardim e o proprietário, um homem a quem é atribuído o nome de Jardineiro, submeter as mulheres a um extenso processo de tatuagem nas costas a fim de se parecerem com borboletas. Insistindo que estas têm um reduzido tempo de vida, o leitor fica apoquentado com o destino das mulheres. E não se esqueçam, leitores, de como são tratados os insectos por um coleccionador entomológico. O objectivo deste é sempre a conservação post mortem...
b) a estrutura da narrativa:
A história é narrada através de depoimentos de uma das raparigas que saiu do Jardim (embora como não se saiba logo, ao contrário de The Girl Before).
Esta, denominada no Jardim como Maya, relata várias situações que experienciou no local, com grande ênfase na interacção com as restantes "borboletas" e com o Jardineiro que as submete a várias atrocidades.
Note-se que, na minha opinião, a estrutura desta forma, em testemunho, permite ao leitor acompanhar com mais realismo o sofrimento da protagonista.
Posto isto, creio que se não tivesse lido The Girl Before, teria ficado mais impressionada.
À parte de pensar nas várias coincidências entre as obras, sem dúvida que esta história acaba por ser mais original. Senti que a trama era pejada de contornos perturbadores na medida em que as raparigas eram vistas como borboletas. Questionei a mim própria, várias vezes, qual seria a mente que desenharia um vilão com uma mente tão retorcida a este ponto.
De salientar que, exceptuando os procedimentos alusivos à "transformação" das raparigas, não considerei a trama surpreendente. Na minha opinião, o maior elemento de suspense pendia sobre uma questão: Como é que Maya teria escapado? e o interesse da obra reside na sensação de choque e perturbação que se entranhou em mim. Confesso que senti falta dos vários twists característicos do género de thriller.
Não é muito usual a abordagem à terminologia científica das espécies mas pessoalmente gostei das indicações sobre as várias borboletas (sou da área de Ciências, com grande afinidade para Biologia e tive curiosidade em procurá-las na internet). Não sou obcecada por estes insectos, não como o Jardineiro, mas é consensual achar que estes são animais muito bonitos.
O Jardim das Borboletas é um thriller interessante, pelas razões que mencionei, não obstante considerar que a semelhança entre este e a outra obra, me coibiu de me entrosar mais a este título.
É parco em volte-faces mas repleto de elementos que horrorizam sendo, por isso, uma história forte e que, eventualmente, poderá chocar o leitor.
Sem comentários:
Enviar um comentário