domingo, 15 de julho de 2012

Donna Leon - Morte Num País Estranho [Opinião]

Morte num País Estranho é o livro que sucede a Morte no Teatro La Fenice, este que é a estreia da autora Donna Leon (mais uma saga que tento ler ordenadamente). A capa do livro é lindíssima: gosto particularmente da combinação de cores roxo e azul no cenário veneziano na estética da capa, considerando eu esta mais apelativa face a tantas outras versões deste livro, oriundas de vários países.
Tendo como cenário a bela cidade italiana de Veneza e como protagonista o comissário Guido Brunetti, esta trama inicia-se quando é descoberto um corpo num canal veneziano. Depois de se averiguar a sua identidade, chega-se à conclusão que era um militar americano. À primeira vista este seria um homicídio decorrente de um assalto mal sucedido, mas a investigação conduzida por Brunetti leva a outras conclusões.

Ao ler Morte Num País Estranho, escrito em 1993, senti que o livro aborda questões ainda bastante actuais, nomeadamente a emigração ou questões ambientais referentes a depósito de lixo sem tratamento. Talvez Leon, tenha pegado nestes assuntos fracturantes, sem qualquer dependência, de forma a elaborar o enredo. Senti ao início que tal corrupção no depósito não autorizado de material refugo pudesse dispersar a investigação da morte de
Escandaliza-me, como engenheira do ambiente, que já nos anos 90, a eliminação de produtos tóxicos pudesse ser feita de forma ilegal, gerando largos lucros para algumas pessoas. E claro, sabe-se que este cenário vai muito além da mera ficção.

Donna Leon escreve tramas policiais fáceis de ler, embora com algum grau de complexidade, que se encaixam na descontraída vida familiar de Brunetti. Penso já ter referido numa crítica anterior, que o vulgar do detective em tramas policiais é a existência de um trauma ou algo mal resolvido na sua vida, que o condiciona perante a investigação criminal.
Guido Brunetti afasta-se claramente desta categoria: é um homem de bem com a vida, e tem uma família deveras castiça: a esposa Paola e os filhos Raffaele e Chiara são extremamente unidos, especialmente Paola que atenta em observações importantes para a resolução do caso. Já o fez no livro anterior, fá-lo agora e desconfio que terá a mesma postura doravante na saga.

Esta é uma das razões porque gosto tanto de Leon, justamente, por exemplo, pela forma como uma refeição mediterrânica é preparada e apreciada numa família feliz e equilibrada. Posso enumerar mais razões que se prendem com a forma como a autora formula os enredos policiais, não tão simples como aparentam ser à primeira vista como também a capacidade descritiva da cidade de Veneza, incutindo uma vez mais, uma natural e genuína vontade em visitar a cidade em questão.

Donna Leon mantém a mesma linhagem na escrita, quase isenta de grafismo. Embora a autora contemple mais do que uma morte relativamente violenta, não há grandes pormenores macabros que possam chocar. Nem em termos de sexualidade apesar das inúmeras evidências da contínua paixão de Guido pela esposa. Não contem com uma história com inúmeros twists, cheia de adrenalina ou acção: ao invés, a autora oferece 312 páginas de mistério e suspense, adequando-se uma quase familiaridade e conforto na descrição de uma vida familiar harmoniosa, pautados por momentos mordazes, em que está presente algum humor. Estes sobretudo presentes na relação entre Brunetti e o seu superior Patta.
A própria beleza da cidade de Veneza é um factor que afasta a possibilidade de ocorrência de crimes.

Morte Num País Estranho não faz qualquer referência ao seu antecessor, Morte no Teatro La Fenice mas penso que se deve ler os romances de Leon por ordem, a fim de não perder pitada sobre a personagem, que evoluiu desde o romance de estreia, e penso que continuará a evoluir na sua astucia e perspicácia na resolução dos casos. Como já referi, a vida quotidiana de Brunetti é simplesmente apetitosa, pelo que é interessante acompanhar o crescimento de Raffaele e Chiara. Neste livro Raffaele entra na fase da adolescência e para já começa a apresentar aqueles pormenores tão típicos desta faixa etária. A autora não desenvolveu, mas o livro termina justamente em aberto para esta personagem, tendo eu ficado curiosa em ler o terceiro livro, que será Vestido para a Morte.

Não querendo eu tecer considerações específicas para este livro, penso que será mais adequado fazê-lo para a saga de Donna Leon. As tramas conduzidas por Guido Brunetti são altamente recomendáveis. Não é preciso ser-se viciado em leituras policiais para as ler e apreciar, pois como disse anteriormente, são livros relativamente descontraídos, não tendo um público alvo específico. Altamente recomendado para quem gostaria de estar em Itália sem sair do seu próprio sofá e conhecer o quotidiano de um simpático e afável polícia no seio da cultura mediterrânica. E claro, no meio de tudo, não esqueçamos o mais importante: acompanhar a investigação de um crime...





Mais informações sobre o livro aqui.

1 comentário:

  1. Olá!!
    É só para te informar que te deixei um selo no meu blog :) http://arttemizzabooks.blogspot.pt/2012/07/tag-liebster-blog.html

    Boas Leituras

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