segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Anders de la Motte em Portugal

A blogger, Vera Brandão com o autor Anders de la Motte
Anders de la Motte esteve em Portugal para promover os livros O Jogo e Vibração, publicados pela Bertrand. Na manhã do dia 16 de Setembro, a menina dos policiais esteve à conversa com o simpático autor numa conversa deveras interessante, a qual passo a transcrever em seguida. Não deixo de endereçar os meus agradecimentos à Bertrand pela oportunidade fantástica de conhecer o autor.

Verovsky (V): Primeiro gostaria de agradecer a oportunidade de entrevistá-lo e conhecer mais sobre uma trilogia que, dentro do género policial nórdico, destaca-se por ser diferente não só pela trama que apela às novas tecnologias, como acima de tudo pelo carácter das personagens.
Onde encontrou inspiração para criar personagens tão diferentes como Henrik e Rebecca?

Anders (A): Eu comecei a escrever em 2007. Sempre fui um leitor muito ávido antes, lia imensos livros. Na altura trabalhava para a Dell e viajava por toda a Europa, aproveitava e lia muito nas viagens. Nessa altura, a minha esposa perguntou "Quando é que começas a escrever?". Eu já tinha a ideia geral mas precisava que alguém me incentivasse a escrever. Então pus as mãos à obra, dizendo à minha mulher: "A ideia foi tua, se correr mal a culpa foi tua!" (risos). O primeiro romance que escrevi foi um policial tradicional mas não chegou a ser publicado por nenhuma editora. Como sabes, na Suécia e em geral, na Escandinávia existem muitos policiais e temos que ser muito bons para podermos ver publicadas as nossas obras.

V: Mas isso aconteceu depois do Stieg Larsson? Pergunto isto porque cá em Portugal, foi esse o autor que despoletou a onda dos policiais nórdicos.

A: Não, ainda antes. Existem bons autores nórdicos do género ainda antes de Stieg Larsson. Por isso, nós temos que ser muito bons ou escrever algo que seja uma novidade. Então fiz mais uma tentativa, desta vez com uma história diferente. Por isso pensei no herói como alguém que não fosse um polícia, pois essa personagem é comum. Pensei como protagonista, alguém de quem não se gosta e foi assim que surgiu HP. Depois de ter escrito algumas páginas com ele pensei que o livro inteiro não poderia ser só sobre ele, daí ter imaginado a Rebecca. Pensei em HP como a voz no subconsciente que representa uma criança interior. Imagina que estás no elevador com o HP. Ele é a pessoa que vai carregar no botão de emergência sem medo das consequências. (risos)
A Rebecca é o contrário, ela gosta de ter tudo sob controle e obedecer às regras.
Depois pensei na história. Se quero uma história diferente tem que ser moderna e não se resumir à investigação de um crime.

V: De facto tenho que concordar. HP é dos protagonistas que, embora encontre redenção ao longo do livro, é uma personagem que não se gosta. E no final até achei que fosse ok.
Os leitores já leram O Jogo, saiu em Janeiro. O que podemos esperar agora de Vibração? E do próximo, Bolha?

A: Bem, para já todos os que sobrevivem em O Jogo, aparecem agora em Vibração. (o autor pega nos livros e fita as capas)

V: Gosta das capas? Como são as capas originais dos livros na Suécia?

A: Não são tão giras quanto estas! Bem, elas também são giras. Têm um fundo branco com a parte de trás de um telemóvel, não se vê a parte da frente do telemóvel. Por isso, estas são mais elaboradas. Dá mesmo vontade de agarrar na capa e mexer nestes botõezinhos (risos)
Vibração passa-se dez meses depois dos acontecimentos de O Jogo. HP tem tudo o que quer, dinheiro e liberdade, pode fazer o que quiser. Uma vida muito pacata para uma personagem como ele, que só quer envolver-se em problemas. Ele quer que O Jogo o encontre, vida pacata não é bem o seu género. Este é o ponto de partida de Vibração.

V: Quando escreveu esta trilogia, que referências é que teve dentro deste género? Costuma falar com outros autores suecos?

A: Sim, falamos bastante. Para a próxima semana encontrar-nos-emos numa feira do livro em Gotemburgo. Muitos de nós temos o mesmo agente por isso cruzamo-nos com frequência nestes eventos a fim de trocar algumas impressões.

V: Está cá em Portugal. Está a gostar? Já cá tinha estado? Conhece alguma literatura portuguesa?

A: Já cá tinha duas vezes quando trabalhava para a Dell. Infelizmente nessa altura não vi muito mais que aeroportos, hotel e escritório. Espero explorar Lisboa hoje e amanhã, agora que estou cá de visita. Devia conhecer alguma literatura portuguesa... alguma coisa que recomendes?

V: Talvez José Saramago, creio que é o expoente da literatura portuguesa.

A: Ahhh sim, já ouvi falar. Ele ganhou um prémio Nobel. Já ouvi falar dele. Gostaria de ler alguma obra da sua autoria, agora que se fala nisso... Agora estou a ler Sharp Objects de Gillian Flynn (falámos um pouco sobre esta autora)

V: Teve alguma experiência pessoal que tivesse passado para o livro?

A: Sim! Eu fui agente da polícia durante 8 anos em Estocolmo e trabalhei como segurança numa empresa. Por isso algumas coisas do livro são baseadas em coisas que experienciei no meu trabalho, outras ouvi falar e outras que inventei, exagerando factos da realidade.

V: Perde muito tempo na investigação para os seus livros? Pergunto-lhe isto porque, sabemos que é um thriller e até com algumas coisas baseadas na sua experiência mas há uma componente tecnológica muito forte, deduzo que tenha havido algum tempo dispendido para investigar e tornar a trama convincente.

A: Conheço bem o ambiente de Estocolmo por ter trabalhado por lá. Por outro lado, e no que respeita à tecnologia, quero certificar-me que conheço os detalhes suficientes. Tento manter as coisas mais próximas quanto possíveis quanto possível. Há claro, alguma pesquisa mas também as minhas experiências condicionaram algumas das situações que escrevi. Ainda tenho alguns amigos na polícia ou na segurança e a troca de impressões ajuda a criar melhor os cenários.

V: Planeia voltar a Portugal? Teve azar com o tempo... esta chuva... Talvez quando sair Bolha (a relações públicas da Bertrand confirma que será no próximo ano)

A: Gostaria muito, Portugal é um país acolhedor. Aliás, quando escrevi a cena inicial de O Jogo, baseei-me num local daqui. Escrevi O Jogo em 2009 e sinceramente não me recordo do nome, mas lembrei-me das casas e do ambiente, por isso escrevi umas páginas baseadas no local. Claro que não eram muito apelativas, com tanta descrição e sendo um thriller. Tirei este excerto mas guardei-o pois foi um trabalho de pesquisa sobre um local português.

V: Depois desta trilogia, o que podemos esperar de Anders de la Motte?

A: Escrevi agora um quarto livro, um stand alone, sem as personagens Rebecca e HP. Haverá um quinto livro mais tarde. Estes serão uma duologia. O primeiro já foi publicado em Março na Suécia e chama-se MemoRandom. É sobre um inspector da polícia perito em informações secretas e faz muitos relatórios criminais, mantendo-os na memória em vez de os formalizar. Entretanto sofre um enfarte e quando acorda, esquece-se de muitas informações... A sequela deste livro chamar-se-á Ultimatum.

V: Muito obrigada pelo seu tempo e por ter dado a conhecer um pouco mais de si e do seu trabalho.

A: Eu é que agradeço e fico satisfeito por teres gostado do livro.

Os meus exemplares de O Jogo e Vibração, agora autografados

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