segunda-feira, 10 de abril de 2017

Os Olhos de Minha Mãe [Opinião Cinematográfica]


Não resisti a fazer uma review deste filme. Ultimamente tenho visto uns quantos que não saem da linha da medianidade e como tal, nem penso sequer em escrever sobre os mesmos. Contudo The Eyes of My Mother arrebatou-me e sinto que devo dedicar um post a este (magnífico) filme!

Apesar de ter visto este cartaz em estações de metro aquando a sua estreia, devo dizer que foi uma estratégia de marketing que faz sentido quando os filmes são comerciais. No meu entender, Os Olhos de Minha Mãe destina-se a um público alvo muito restrito, pelo que não faria muito sentido a proliferação de publicidade alusiva a este filme. Seria, certamente, um bom candidato a abertura de festivais de terror, como o MOTELx ou o Fantasporto.

São apenas 76 minutos de uma história que tem de perturbadora como de dilacerante. Não achei a trama completamente original, confesso, mas algo no filme que me absorveu ao ponto de, após dois dias, ainda pensar na Francisca, a protagonista da história.

Nem me interesso particularmente por filmes a preto e branco (como é o caso deste) mas reconheço que deu um outro ânimo à história, tornando-a mais sombria. Além disso, denotei que a fotografia está fantástica. Os planos do cenário estão bem conseguidos assim como uma outra particularidade técnica que, a meu ver, foi diferenciador dos demais filmes de terror. Falo da omissão dos afamados jump scares ou de uma banda sonora que apele ao medo. 
Por falar na banda sonora, tenho que mencionar o efeito poderoso dos fados da Amália. Embora não sendo uma fã do género musical, devo reconhecer que intensificou a história.
E porquê fados? Porque há uma ancestralidade de origem portuguesa naquela família. Apesar de se instalar a dúvida sobre a verdadeira ocupação da mãe de Francisca, é dito ao telespectador que esta terá sido cirurgiã oftalmologista em Portugal. Além disso, inúmeros diálogos são feitos na nossa língua, ainda que não tenha conseguido reconhecer o sotaque. Ou será apenas a actriz Kika Magalhães que está enferrujada a falar o nosso dialecto?

Uma breve pesquisa sobre o realizador Nicola Pesce permitiu-me saber dois factos: a) ele é mais novo do que eu; b) este é o seu primeiro filme. A avaliar por esta experiência, será, certamente, um realizador a ter sob mira. 

Sobre a história, nada mais posso adiantar que esta se alicerça sobre um acontecimento traumático a que Francisca assiste em miúda e as repercussões deste ao longo da sua vida. Fala do desespero em ter uma família ou amigos, explora uma mente claramente sociopata. Assim como Francisca não consegue discernir a fronteira entre o certo e o errado também nós não conseguimos desagregar o dramatismo da história do terror psicológico.

O climax é completamente lancinante e senti-me aturdida nos instantes após ter terminado o filme. Isto quererá dizer alguma coisa, certo? 
Para quem é fã do género e, tal como eu, se tem sentido defraudado com os últimos filmes de terror no mercado, este é uma aposta segura. Vale mesmo muito a pena! Recomendo!

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