segunda-feira, 10 de junho de 2019

Nova autora nórdica publicada em Portugal pela Planeta

Há uma semana era véspera de partir para a Suécia. Estava extasiada, afinal de contas, os meus livros de eleição são os policiais escandinavos. O objectivo desta viagem era conhecer a autora sueca Viveca Sten.


Nas Águas Mais Calmas é o primeiro livro da série com cenário na ilha de Sandhamn, série esta que é um sucesso em França e Alemanha e que chega a Portugal já no próximo dia 4 de Julho, cortesia da editora Planeta. 
Eu e a Raquel Curvacheiro, do blogue Nota de Página, estivemos na ilha para conhecer um dos nomes mais sonantes da literatura policial escandinava contemporânea e aproveitámos para colocar algumas questões:



Vera Brandão: A Viveca é uma nova autora publicada em Portugal. Fale-nos de si.

Viveca Sten: Bem, eu sou escritora de policiais desde 2008 (data de publicação de Still Waters, cá traduzido como Nas Águas Mais Calmas). Antes de me tornar escritora era advogada numa empresa de negócios. Trabalhei no ramo durante 20 anos e escrevi alguns livros de não ficção na área do Direito mas em 2005 quis desafiar-me a escrever outra coisa. A minha editora queria que eu escrevesse mais um livro de não ficção e eu pensei "Isto é tão aborrecido, não quero fazer isto" e, como gosto tanto de policiais pensei em escrever um que fosse passado em Sandhamn, afinal de contas, passo férias aqui desde bebé, O resultado foi este, Still Waters. Lembro-me de perguntar se venderia 3000 cópias, o número de vendas dos meus livros de não ficção e na Suécia, esse número é muito bom. Fiquei surpreendida quando este livro foi um sucesso, tendo vendido 1/4 de milhão de cópias. Instigou-me a escrever o segundo que também foi um best-seller. Nessa altura, a TV Sueca ligou-me a propor a adaptação dos livros numa série de TV e, posteriormente, houve interesse por parte de outros países na compra dos direitos editoriais. 

VB: A série de TV foi bem recebida?

VS: Foi um grande sucesso, sim! Bem como o terceiro livro. Contudo em 2011, quando escrevia o 4º livro, achei que era impossível conciliar a carreira de advocacia com a escrita e a família foi quando tomei a decisão mais difícil de sempre, desistir do meu trabalho, afinal de contas era o meu emprego há 20 anos. Hoje em dia não me arrependo dessa decisão e até considero que a advocacia foi útil para os meus livros porque Nora (uma das protagonistas da série) é advogada e eu "passei-lhe" os meus conhecimentos já para não falar da disciplina que fui adquirindo pois respeito sempre os prazos e data limite da entrega dos manuscritos. Foi a melhor decisão da minha vida.

Raquel Curvacheiro: Quando li o seu livro fez-me pensar naqueles policiais clássicos que assentam sobre segredos numa comunidade pequena fechada, o desconhecido sobre o que se passa atrás de portas fechadas. Queria passar a mensagem de que não conhecemos completamente aqueles que nos rodeiam? 

VS: Acho que é interessante. Quis escrever o tipo de livro que gosto de ler. Pessoalmente não aprecio livros gráficos com descrições mórbidas. Acho mais interessante um puzzle psicológico e até mais assustador por ser real. Penso que qualquer pessoa se pode tornar num assassino em circunstâncias limite e reflicto nas situações que possam levar uma pessoa ao desespero e cometer crimes. Estou a escrever neste momento o meu 10º livro e penso constantemente nessas perspectivas. Sou péssima a escrever sobre pessoas que acordam um dia e decidem que são maléficas. Não é o meu estilo. Na maioria dos meus livros, o assassino não é o típico homicida, são pessoas como nós, movidas pelo desespero e tento fazer com que o leitor embora deteste as acções da personagem, acima de tudo, a compreenda.

VB: Como é que usa um local tão idílico como Sandhamn como palco de homicídios? Parece-me uma ideia tão antagónica...

VS: Adoro estar sentada aqui, a pensar no quão boa é a vida e depois haver um acontecimento chocante porque não sabemos o que se move nas sombras. Baixamos as guardas num local tão paradisíaco como este, daí ser tão perfeito para um livro policial. O livro começou assim. Estava a caminhar na praia, em 2005, o tempo estava maravilhoso e, de repente, imaginei um cadáver envolto numa rede de pesca, uma imagem tão vívida que pensei mesmo nessa situação. E se houvesse, de facto, um cadáver? Fui para casa e escrevi o primeiro e o último capítulos. 

RC: Como se escreve o desenvolvimento de um livro a partir do primeiro e último capítulos? Já tinha as reviravoltas em mente?

VS: Bem, eu sabia como a história ia começar e terminar. Não tinha experiência na escrita de policiais, por isso ia tendo algumas ideias e fui percebendo quais ficariam melhor na história. Nisto passaram-se dois anos e o meu marido insistiu para que levasse o manuscrito à editora. Não estava muito confiante, afinal de contas eu era advogada e sem experiência na escrita policial mas em 2006 mandei o manuscrito a três editoras e a maior editora na Suécia ligou-me passado três semanas, dizendo que tinham adorado a história e que a queriam publicar. Estava incrédula! Ligaram-me de manhã com a notícia mas eu liguei-lhes no dia seguinte "Querem mesmo publicar o meu livro?" (risos). Liguei ao meu marido para partilhar a notícia e ele foi comprar champanhe para celebrar. Deixei-o no frigorífico e só abrimos a garrafa quando assinei o contrato.

VB: Quanto tempo levou a escrever o seu primeiro policial?

VS: Talvez tenha demorado uns dois anos. Na altura era também advogada e tinha que conciliar a escrita com a minha vida profissional e pessoal. 

RC: Parece mesmo um sonho, termos algo escrito e podermos partilhar com o mundo.

VS: Exacto, quando escrevi os meus livros de não ficção, eu era advogada e sabia sobre o que escrever. Tinha conhecimento que os meus livros de Direito eram bons, dentro da área mas quando saiu este, foi como entregar o meu coração aos leitores e esperava que gostassem tanto quanto eu gostei de o escrever. Esta incerteza foi uma experiência assustadora.

VB: Todos os seus 10 livros de ficção são passados aqui em Sandhamn?

VS: Sim são. Às vezes as pessoas perguntam se ainda restam pessoas cá na ilha (risos). 

RC: No seu livro, refere que vivem cá 120 pessoas.

VS: Com os livros, diria que foram reduzidas a 90 (risos). Tenho um vizinho que diz que já matei uns 5% da população. Os livros são maioritariamente passados cá mas falo também de outras ilhas e de Estocolmo. 

VB: Está a trabalhar noutros projectos? Noutra série?

VS: De momento estou a escrever o meu 10º livro da série passada aqui em Sandhamn mas escrevi uma trilogia de fantasia para adolescentes, com a minha filha Camilla, ela também escreve, sobre uma personagem com poderes mágicos e aborda monstros marinhos que acordam com a poluição e querem vingar-se dos humanos. 

VB: Como foi o processo de escrita a quatro mãos?

VS: Adorei! Foi muito divertido! Aproximou-nos a ambas e redefiniu a nossa relação pois passamos de mãe e filha para colaborarmos juntas no trabalho. Viajámos juntas para promover os livros, foi muito bom! Ligo-lhe não só com as preocupações de mãe como também para assuntos do trabalho. Temos directrizes diferentes: ela estudou psicologia, compreende melhor as pessoas. No que concerne à trilogia, é uma história bastante excitante e tem uma mensagem ambiental muito forte. 

RC: Como é a Viveca como leitora?

VS: Costumo ler muitos policiais, não os leio durante o meu processo de escrita. Leio mais livros biográficos, históricos, outros géneros que não o policial. Até costumo dar dois conselhos a quem quer começar a escrever este género: primeiro, ler tudo o que puder e segundo, escrever tudo o que puder. Às vezes escrevo imenso, imenso e não estou nada confiante com o resultado final, mas guardo o rascunho e edito. Até costumo dizer que sou melhor a editar do que a escrever.
Adoro ouvir audiobooks, costumo ouvir cerca de uma hora por dia. Ora estou a tratar da roupa, ou da loiça, vou aproveitando o tempo. Nem sempre tenho apetência para ler, muitas vezes estou cansada e opto por este formato. É já bastante comum ouvir audiobooks na Suécia. 

VB: Tem algum autor preferido?


VS: Para mim é muito difícil enumerar os meus preferidos mas há uma especial, a Elizabeth George. Adoro os livros dela e o primeiro policial que li foi o Missing Joseph e adorei! Mas existem tão bons autores que me é  realmente difícil eleger os preferidos.


RC: Tem alguma mensagem para os leitores portugueses?

VS: Estou muito satisfeita que o meu livro seja publicado em Portugal, espero que vocês gostem e acolham Thomas e Nora nos vossos corações. E claro, que se apaixonem aqui pelo arquipélago.

RC e VB: Obrigada, Viveca. Tack!

1 comentário:

  1. Excelente entrevista. Muito bem conduzida. Fiquei c curiosade pela autora.Parabens

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