Rasganço, termo que simboliza um dos rituais universitários de Coimbra na altura da graduação, será uma das películas nacionais a ser transmitidas no festival de terror MOTELx deste ano.
Desconheço se este ritual é, de facto, como o que nos é apresentado pois a minha vida académica (fui estudante no Instituto Superior Técnico) foi um pouco aborrecida - às páginas tantas queria lá eu saber das práticas sociais universitárias, à medida que os anos iam passando, eu apenas desejava terminar o curso!
Para mim, a magia deste filme provém do cenário e do ambiente. Embora já tenha terminado o meu curso há alguns anos, e, como tal, já não me identificar com o universo académico em concreto, não me senti de todo descontextualizada.
Talvez por não ter estudado em Coimbra e, consequentemente, não ter usufruído de uma vida académica tão rica, senti-me deslumbrada com o ambiente, as serenatas, as paisagens da cidade e com o vislumbre da fantástica biblioteca joanina da universidade. Decerto que o filme é convidativo a visitar a cidade.
A história debruça-se sobre um jovem que chega a Coimbra que, não sendo estudante, nem tão pouco pertencendo àquele meio, rapidamente trata de se envolver com várias mulheres ligadas à Universidade até ao dia em que a situação escala e o pânico alastra por entre a comunidade académica.
Estamos, portanto, perante uma história de contornos lineares. Já sabemos à priori quem é o vilão pelo que, a meu ver, a trama carecia de uma reviravolta bombástica, possivelmente relacionada com o motivo pelo qual ele age daquela forma. Creio que este foi parcamente desenvolvido e a história tornar-se-ia mais rica caso estes motivos fossem mais aprofundados. Aliás, para mim, a subtrama principal, directamente alicerçada sobre Miguel, o forasteiro, poderia ser mais explorada.
Os ataques às universitárias poderiam ser mais frequentes e brutais e a investigação policial poderia ter sido mais intensa. Considerei que o puzzle montado sobre as vítimas foi bastante interessante e, pessoalmente, teria gostado de ver essa componente mais aprofundada.
Mesmo que a história pendesse para o subgénero de giallo, esta nunca perderia o seu encanto devido ao ambiente único onde a trama tem lugar. Contudo compreendo que a) este filme é claramente uma produção com poucos recursos e b) não creio que a realizadora quisesse tecer uma trama policial, por isso, compreendo perfeitamente as escolhas de Raquel Freire.
Na apresentação do festival, o filme foi-me "vendido" como sendo um slasher, o que discordo pois grande parte das cenas mais violentas são bastante implícitas. Na realidade, a cena que foi mostrada na apresentação é a única passível de alguma susceptibilidade pois de facto, tem algum gore.
Com isto dito, criei algumas expectativas que foram defraudadas. Ainda assim reconheço que a produção nacional tem algo de mágico, percepção que atribuo ao universo académico único de Coimbra.
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