segunda-feira, 11 de maio de 2020

Tarryn Fisher - Margo [Opinião]


Sinopse: Em Bone há uma casa. Na casa há uma rapariga. Na rapariga há uma escuridão.
Margo não é como as outras raparigas. Ela vive em Bone, um bairro abandonado, numa casa decrépita, com a sua mãe negligente que não lhe fala há dois anos. Os dias passam e ela sente-se invisível. O seu mundo vira do avesso quando conhece o vizinho Judah Grant, preso a uma cadeira de rodas, que a ajuda a dar mais sentido à sua vida.
Um dia, a tragédia abate-se sobre a pequena comunidade quando uma rapariga de sete anos desaparece. Judah vai tentar ajudar Margo a descobrir o que aconteceu à menina, mas a revelação da verdade irá despertar uma escuridão no seu interior.
Agora Margo está determinada em descobrir molestadores de crianças, e em puni-los, um por um. Mas caçar o mal é perigoso e a jovem arrisca-se a perder tudo, incluindo a sua alma…

Opinião: O lançamento desta obra passou-me despercebida e questiono-me porque razão este livro não teve um maior hype. A verdade é que este título ficar-me-á na retina durante muito tempo pois a narrativa é simplesmente visceral, como há muito não encontrava uma história com uma carga tão pesada.

É inevitável sentir uma empatia imediata nos instantes iniciais com a protagonista, Margo, devendo-se, sobretudo, à relação negligente que esta tem com a mãe e a forma como isso a afecta no seu crescimento. É certo que as relações disfuncionais vão além da ficção, pelo que se torna especialmente desconfortante ler pormenores sobre como estes relacionamentos, em particular o de mãe e filha, se desenvolvem.
É neste cenário incómodo que a trama progride, sempre num registo negro. A atmosfera lembrou-me, em certos momentos, a recriada pela autora Gillian Flynn, pela descrição mais crua dos elementos do bairro onde vive Margo bem como o seu seio familiar. A trama adensa-se quando desaparece uma menina, acontecimento que acompanha uma mudança interior profunda da protagonista.

Margo poderia ter-se deixado influenciar pela negligência da mãe, torna-se uma personagem corajosa e determinada em eliminar os criminosos. Esta pretensão a ser social justice warrior - lembro-me, de repente, da personagem Dexter que, claramente, partilha este traço - não é uma característica completamente incomum mas o que torna Margo especial é, sem dúvida, o seu crescimento pessoal. Nunca me saiu da retina as primeiras passagens do livro e como me senti, angustiada, relativamente à protagonista.

Não vou desvendar muito sobre o enredo, a sinopse é parca e creio que a maior surpresa advém precisamente do facto de desconhecermos os contornos da história. Contudo poderei assegurar que, em poucas páginas, a autora Tarryn Fisher apresenta uma história cujos contornos não são particularmente inovadores, mas que me envolveu por completo. Confesso que sinto um fascínio por histórias de vinganças pessoais, protagonizadas por figuras fortes e destemidas. Todavia o que mais me agradou foi, de facto, o ambiente obscuro onde a narrativa tem lugar.

Em suma, há muito que não lia uma história tão psicologicamente pesada. Senti-me consternada, revoltada e emocionada com esta história sombria que, além de ser um brilhante thriller psicológico, é uma verdadeira bofetada através da sua abordagem às famílias disfuncionais e negligentes. Esta história fez-me mergulhar num bairro problemático e envolver-me com uma personagem especial. E por estas razões, Margo é, com certeza, um livro inesquecível!


2 comentários:

  1. Para além de ser um livro com um o preço muito baixo (fiquei tão admirado, cheguei a pensar que era uma promoção, mas era simplesmente o preço original!) , ainda conta com uma história impactante.

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    1. Vale bem a pena e com este preço tão simpático, melhor :)

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