segunda-feira, 8 de junho de 2020

Lionel Shriver - Temos que Falar Sobre o Kevin [Opinião]


Sinopse: Eva nunca quis ser mãe, especialmente de Kevin, que há dois anos matou sete colegas da escola, um funcionário do bar e uma admirada professora que tentou compreendê-lo. Tudo isto dois dias antes de completar dezasseis anos, e agora o rapaz vive numa prisão temporária para jovens delinquentes. Ao contar a história do filho em cartas endereçadas ao marido, agora separado dela, Eva expõe os seus receios face à maternidade e à influência que pode ter exercido no desenvolvimento da personalidade de Kevin. Até que ponto poderá ela ser culpabilizada?

Opinião: Tão difícil quanto falar sobre o Kevin, é escrever sobre este livro e, consequentemente, sobre os sentimentos que a obra em apreço nos desperta. Creio que a sinopse é explícita, esta trama debruça-se sobre uma família que vive uma situação dramática: e complexa Kevin, o filho mais velho, foi responsável por um ataque a uma escola que vitimou uma professora e alguns colegas e está preso.

A trama acaba, desta forma, por nos ser apresentada de uma forma extremamente peculiar: ora, por um lado, o leitor tem conhecimento imediato sobre o final da obra, por outro, a narrativa apresenta uma invulgar estrutura, sob a forma de cartas da mãe, Eva, destinadas ao marido. Imediamente, a sensação que temos prende-se com a fragilidade da relação de ambos, fazendo um contraponto dos relatos iniciais, relacionados com algumas vivências com o pai de Kevin, ainda na fase de namoro, e como a relação evoluiu para o casamento. Pessoalmente, achei o início muito lento e de ritmo moroso. Estava sedenta de saber mais sobre o protagonista, Kevin, pelo que achei que o autor se perdeu nos ínfimos detalhes sobre Eva. Compreendo que estes visam enriquecer a personagem mas eu sou impaciente e queria chegar ao cerne da história. Será, portanto, uma percepção muito pessoal que se prende com o facto de eu ser entusiasta de tramas ágeis.

Estas introspecções traduzem-se num dilema que me parece ser algo comum e igualmente tabu: a decisão de uma mulher em recusar experienciar a maternidade. Pessoalmente acredito que nem todas as mulheres sintam necessidade de ter filhos muito embora haja pressão da sociedade para que isso aconteça. Eva não esconde, desde uma fase precoce da trama, que pertencia a esse grupo de mulheres.Talvez tenha sido este sentimento, embora camuflado, que tenha influenciado o Kevin a ser mau ou, simplesmente, a psicopatia já seja genética e esta revela-se desde tenra idade. Nunca saberemos e creio que o fascínio desta obra recai sobretudo a esta dúvida constante. 
Toda a história é escrita sob o ponto de vista da mãe pelo que me questionei se os factos descritos pela Eva correspondem totalmente à realidade ou se os terá exagerado. Sou sempre céptica quando ouço apenas um lado da história.

Através das cartas, Eva vai relatando alguns episódios protagonizados pelo seu filho, que vão progressivamente escalando para acontecimentos de cariz mais grave. A partir do momento em que Kevin nasce, comecei a sentir um maior interesse pela história. Não mencionei que alguns dos acontecimentos estão retratados no filme baseado nesta obra, não obstante considerar que o livro está munido de muitos mais pormenores e a história é, desta forma, ainda mais profunda. Aliás, como acontece na grande maioria das vezes que é feita uma adaptação cinematográfica a partir de um livro.

Em suma, esta obra revela uma intimidade muito peculiar. Se a trama mexeu muito comigo, que não sou mãe, acredito que a percepção de quem o seja, seja ainda mais intensa. Faz-nos questionar sobre inúmeros aspectos e, acima de tudo, merece ser atentada pois urge reflectir sobre o Kevin e aqueles que, aparentemente, são desprovidos de empatia.
Infelizmente este título está esgotado. É, portanto, digno de uma reedição!

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