terça-feira, 1 de maio de 2012

Aleksandra Marínina - O Dono da Cidade [Opinião]


Aleksandra Marínina é uma consagrada escritora de policiais russa de quem eu nunca tinha ouvido falar. Bem... só numa busca exaustiva de títulos do Fio da Navalha é que me deparei com ela e numa oportunidade de compra deste livro com um preço mais simpático, é que tive a chance de a "conhecer".

Então é sobre ela que me debruço neste post, e no seu romance de estreia O Dono da Cidade, o 16º volume da colecção Fio da Navalha da Editorial Presença.

Desconhecendo se os tradutores traduziram o livro da sua versão original em russo, penso que fizeram um excelente trabalho. Desmistificaram um aspecto, bastante curioso até, sobre a construção dos nomes russos. Desconhecia por completo a utilização de um patronímico em detrimento do reconhecimento da identidade paterna e gostei de ter lido sobre este facto.
E é aqui que aponto a maior crítica a este livro, um aspecto intrínseco ao mesmo: a dificuldade em reter nomes tão complicados como estes, russos, cuja complexidade aumenta visto que um nome pode ter associado umas três ou quatro alcunhas.
Os tradutores tentam descomplicar, e na sua nota, compilam os nomes das várias personagens, sintetizando a sua função na trama.
De facto, se não tivesse sido este apontamento, ter-me-ia sentido perdida pois achei extremamente difícil fixar os nomes das personagens com a agravante de, frequentemente, estas serem citadas pelas suas alcunhas.

Ora bem, neste que é o primeiro livro protagonizado pela agente da Judiciária de Moscovo, Anastassia Pávlona Kaménskaia, mais vulgarmente conhecida como Nástia, a própria vai dar entrada no Dolina, um sanatório local, onde terá início uma investigação policial. Existe uma sórdida história de um homem com ambições demasiado estranhas e que o levam a planear (e posteriormente executar) filmes pornográficos com trágicos desfechos. Esta é apenas uma das tramas paralelas. A outra centra-se num estranho homicídio.

Gostei desta personagem principal e mais do que isso, estou curiosa em saber mais sobre ela. É uma mulher determinada a nível profissional mas do pouco que descreve da relação com o namorado, deixa antever um quê de submissa no campo amoroso.
As restantes personagens são indiscutivelmente complexas, explorando doenças do foro psicológico ao seu limite, e a forma como estas interferem na vida em sociedade.

Apesar de ter achado a trama muito simples, sem grandes surpresas, com uma acção muito linear aliado a um desfecho pouco surpreendente mas coerente com a narrativa, foi um livro que me cativou. Li-o compulsivamente em dois dias. Gostei dos picos de adrenalina à custa da perseguição de duas personagens tão peculiares como uma prostituta e um anão e estava curiosíssima em saber qual seria o desfecho do Iúri Mártsev, um homem cuja história é mórbida mas extremamente realista e chocante!

Eu gosto particularmente de policiais cuja acção se passe em países estrangeiros e foi o primeiro que li tendo como cenário, a Rússia. Não estou familiarizada com os costumes deste país, e com este livro tive oportunidade de ler um pouco sobre a cultura russa.
A forma como os temas da pedofilia e prostituição são abordados é extremamente crua, podendo ferir a susceptibilidade do leitor. É aqui que a linguagem de Marínina se torna mais cruel: no retrato de actos vis, que embora não pensemos neles, são perpetuados no obscuro na sociedade e fielmente espelhados na literatura policial.
Um fenómeno cada vez mais visível nas sociedades ocidentais e patente neste livro (embora estejamos na Rússia pós soviética) são as organizações criminosas como a Máfia. Esta terá um papel que, embora secundário, se revela fulcral nesta trama.

Achei tão interessante este livro que irei aproveitar a feira do livro para adquirir as restantes obras da autora. Estou curiosa em ler o desenvolvimento destas histórias russas e como progredirá Nástia perante novos casos criminais. Gostei! Altamente recomendado para os fãs de policiais que tenham como cenário países que não sejam os Estados Unidos, afim de contactar com novas culturas.





Mais informações sobre o livro aqui.

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