Opinião: Confesso que estava extremamente empolgada com a leitura deste livro devido à sinopse e à recomendação de Stephen King, um dos autores mais reconhecidos em matéria de terror.
Mal o folheei apercebi-me que o tipo de narrativa difere da presente na maior parte das obras, sendo composta por entrevistas, reprodução de mensagens, emails e excertos de notícias, facto que me deixou ainda mais curiosa, pois a minha única experiência neste tipo de narrativa resumia-se à obra Guerra Mundial Z de Max Brooks.
Esta compilação de textos informativos acaba por transformar esta leitura como se de um documento se tratasse. Bastante verossímil a leitura acaba, contudo, por se tornar um pouco confusa uma vez que existem uma série de personagens que participam na trama, quer por testemunhos, ou indirectamente como familiares e conhecedores dos factos decorridos na Quinta Feira Negra. Posso confidenciar-vos que tive que reler uma segunda vez as páginas iniciais, a fim de me inteirar da totalidade dos acontecimentos descritos.
Claro que um acidente destes despoleta uma série de reacções por parte da sociedade, e várias teorias começam a ter forma, sobressaindo, sem dúvida, a teoria religiosa. A autora tornou bastante exaustiva a abordagem de uma nova religião baseada numa suposta profecia de Pamela May Donald onde as crianças surgem associados aos cavaleiros do Apocalipse.
Penso que a teoria religiosa foi bastante extensa face às demais e num dado ponto acaba por se gerar uma certa confusão com o quebrar dos selos, a vinda dos cavaleiros do Apocalipse e a chegada do Anticristo à Terra. Confesso que sou algo leiga em simbologia bíblica por isso procurei averiguar a relação entre as representações da guerra, peste, fome e morte com a entidade do Anticristo, tendo chegado à conclusão que o texto bíblico é muito mais curto e lacunar do que algumas referências na literatura contemporânea a temáticas apocalípticas.
Na realidade, esperava um maior desenvolvimento sobre as atitudes dos três sobreviventes após o acidente, ou melhor, esperava ficar chocada com os seus comportamentos. O facto de tal não ter acontecido deveu-se ao facto de a autora se ter centrado mais nas teorias da conspiração em torno da sobrevivência das crianças do que propriamente nas acções das mesmas, sendo explícito na sinopse que os seus comportamentos se classificariam como bizarros. Confesso que fiquei algo decepcionada pois quando li a sinopse, fiquei com a sensação que os Três teriam reacções bem ao estilo de Damien Thorn no filme The Omen.
Uma vez que os acidentes tiveram pontos distintos no mundo, há que destacar a multiplicidade de cenários na obra. O que mais me fascinou, a ponto de ir investigar sobre o mesmo, foi a famosa floresta dos suicídios no Japão, a Floresta de Aokigahara.
Os Três não é uma obra que considere um page turner, pois requer uma leitura mais morosa a fim de reter todas as informações que são deixadas, bem como o papel das personagens na trama. Em relação a estas, fiquei com impressão que, por termos uma narrativa pejada de textos informativos, a autora não tece considerações directas sobre as personagens, cabendo ao leitor avaliá-las consoante os juízos de valor que vai fazendo sobre as mesmas ao longo da leitura.
Devo também apontar alguma desilusão por parte do desfecho pois o mesmo apela a uma interpretação por parte do leitor, contando com a subjectividade de cada um.
Em suma, Os Três é uma obra bem pensada. Escrita de forma inteligente, apresentando uma premissa que, no meu entender, poderia ter sido mais desenvolvida. Volto a realçar que teria ficado mais satisfeita se a autora fosse mais ousada no comportamento dos Três. Ao invés, Lotz optou por explorar uma teoria da conspiração referente à religião, tema que acho interessante, contudo, creio que, actualmente, já se encontra demasiado explorado. Não deixa, no entanto, de ser interessante e fidedigna a abordagem sociológica que um fenómeno desta natureza pode desencadear.
É uma obra diferente das que costumo ler e gostei, ainda assim, devo confessar que esperava um pouco mais.
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