quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Jeannette Walls - O Castelo de Vidro [Opinião]


Sinopse: Esta é a história de Jeannette Walls, uma jornalista de sucesso que, durante muitos anos, ocultou um grande segredo. O da sua família. Uma família profundamente disfuncional e ao mesmo tempo extremamente viva e vibrante. O pai, Rex, é um homem carismático e entusiasta, que logra transmitir aos seus filhos a paixão pela vida. Ensina-lhes física, geologia, conta-lhes histórias. Mas Rex é alcoólico e, quando está bêbedo, é uma pessoa destrutiva e nada confiável. A mãe é um espírito livre, uma pintora muito orgulhosa da sua arte, que se entendia perante a ideia de uma vida convencional e que não está disposta a assumir a responsabilidade de criar os quatro filhos.
É uma família nómada. Vivem aqui e ali e sobrevivem como podem. Os filhos aprendem a cuidar de si, a proteger-se uns aos outros e, por fim, a sair do círculo vicioso da família e ir para Nova Iorque.
Os pais decidem seguir-lhes as pisadas, mas optam pela indigência. No caminho, muitas noites ao ar livre no deserto, dias em escolas onde só assistem às aulas durante uma semana, com vizinhos que os ajudam e enfrentando abusos de todo o tipo. 

Opinião: Tenho uma particularidade: gosto de livros que me choquem. Talvez por isso, tenha elegido como género preferido o thriller e o policial. Contudo, há toda uma panóplia de livros que, não pertencendo a estes géneros, também arrasam o leitor devido ao intrínseco carácter dramático. Falo de certos livros de memórias, um género que tenho descurado mas que, após esta experiência de leitura, vou reconsiderar essa opção.

Finda a leitura de O Castelo de Vidro, é inevitável não sentir um sufoco. Afinal de contas, esta é a autobiografia de Jeannette Walls. 
O livro inicia-se quando esta tem 3 anos de idade e sofre um acidente na cozinha. Rapidamente desenhou-se a ideia do quão negligentes seriam os seus pais por não a supervisionarem naquela tarefa. E imediatamente esta percepção toma dimensões maiores...

Ao longo da obra, deparamo-nos com inúmeros episódios que demonstram o quão imprudentes eram os pais, obrigando os filhos a crescer demasiado depressa. A capacidade de sobrevivência e a resiliência das crianças são factores importantíssimos.
São várias as situações que colocam a maternidade como perspectiva e como há excepções à regra. Nem todas as mães são maternais e acarinham. Há o reverso da medalha ainda que, felizmente, não conheça pessoalmente.
Creio que o ponto forte do livro reside na reflexão contínua sobre famílias disfuncionais. O flagelo do alcoolismo e estruturas financeiras familiares em declínio vêem aqui uma abordagem credível. 
Por norma, até então, e tendo em conta que li apenas histórias ficcionadas, devo afiançar que esta me impressionou muito por ter sido real. É, por isso, um livro muito emocionante e que joga constantemente com as nossas emoções.

O livro garante uma leitura ávida por manter o interesse em acompanhar a infância e adolescência da protagonista bem como dos irmãos, etapas que caracterizaria como instáveis e infelizes. Contínuo a referir-me a algumas situações como insólitas se comprarmos com uma infância saudável e normal.

Creio que é consensual desenvolver um laço afectivo com as crianças daquela família. Tive compaixão não só por Jeanette como pelas irmãs Lori e Maureen e pelo irmão Brian. Não posso deixar de manifestar um sentimento contraditório pelos pais das crianças.

Um aspecto que retive e é importante de ser mencionado é a forma como Jeannette lida com as várias situações ao longo da vida e o relacionamento com os pais. Muito provavelmente, um comum mortal ter-se-ia afastado dos progenitores mas a protagonista faz questão de ter contacto com os pais ao longo da sua vida e apesar das suas escolhas, o que considero louvável.

Indubitavelmente que uma história com este carácter tem maior valor se tivermos em conta de que os factos narrados são verídicos. É uma história chocante e comovente que recomendo por apresentar uma realidade que eu julgara ser apenas ficção. Creio que esta história, por muitos livros que leia, se tornará memorável.
Valeu mesmo a pena ter saído da minha zona de conforto: gostei imenso deste livro. Irei, certamente, ver o filme que estreará brevemente nas nossas salas de cinema.


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