sábado, 9 de março de 2013

Michelle Richmond - O Ano do Nevoeiro [Opinião]

Sinopse: Uma mulher e uma criança passeiam na praia, numa fria manhã de Verão. O nevoeiro é tão denso que a visibilidade não ultrapassa alguns metros. A criança, irrequieta, solta-se por momentos da mão da mulher e não volta a ser vista. Fazem-se repetidas buscas, mas decorrem dias, semanas, meses e não se encontra rasto da menina desaparecida. Uma história pungente, escrita da perspectiva de uma mulher que, por uma desatenção de segundos, se torna responsável pelo desaparecimento da filha do homem que ama.

Opinião: Mais um excelente livro da Editorial Presença, da colecção Grandes Narrativas.
Este livro foi-me recomendado por um ávido leitor, e após ter atentado na sua sinopse, rapidamente entrou na minha lista de desejos. Mal o comprei, comecei a sua leitura.

Apesar de abordar um tema já comum no thriller, O Ano do Nevoeiro acaba por ser diferente. Na minha opinião, o livro não se insere no género embora a componente mistério combine brilhantemente com as considerações de Abby, inserindo-se talvez num género dramático.
Embora não sendo mãe biológica da criança, Abby conta sob a sua perspectiva toda uma montanha russa de emoções numa situação de desaparecimento de uma criança num instante de distracção não intencional.
Por isso, seria expectável que a personagem Abby seja empática com o leitor. O sentimento de culpa está extraordinariamente real, e não perde a sua essência nos diversos pensamentos de Abby que espelham uma matriz de pensamentos ou outras ponderações ociosas que em nada maçam a trama, a meu ver. É portanto um livro muito sensorial e extremamente convincente nesse aspecto.

Abby, namorada de Jake, o pai de Emma, esforça-se muito mais na busca do que o próprio pai, que desiste. Para mim, este foi o ponto que não me conseguiu convencer. Não que o parentesco influencie os sentimentos, mas as formas de actuação não podiam ser mais díspares.
Por outro lado, denotei algumas passagens um pouco repetitivas as referentes às técnicas desbloqueadoras de memória em Abby, traduzindo o esforço (já claramente percepcionado pelo leitor) na procura de Emma.

Assim, o cariz intrínseco desta narrativa faz com que o livro não se adeqúe aos ávidos de acção em literatura, pois inevitavelmente, esta é uma trama com enfoque mais psicológico e mais de carácter de reflexão. 
Outras considerações relacionadas com a percepção e a memória entrelaçam-se com os conhecimentos sobre fotografia, num tom bastante sóbrio. A escrita de Richmond destaca-se precisamente neste aspecto: a forma como descreve de uma forma quase poética, os acontecimentos trágicos que se prendem com o desaparecimento da menina.

Missivas de esperança prendem-se fortemente durante todo o enredo que se esbatem sobre a hipótese mais dramática e sobretudo a questão: o que de facto terá acontecido a Abby?
Embora pessoalmente não tenha apreciado o desfecho, ao fechar o livro, reflecti uns momentos sobre o poder de encaixe de cada um de nós às situações adversas e os efeitos que estes poderão admitir futuramente. E apenas aí, consciencializei-me e aceitei o final do livro.

Em suma, O Ano do Nevoeiro é uma brilhante trama sobre repercussões emocionais. Esta complexidade emocional, facilmente alcançável para o leitor, aliado à história e à própria escrita da autora foram, sem margem para dúvidas, pontos fortes deste livro! 
Sobre o tema, e assentando sobre estes moldes, um dos melhores livros que alguma vez li. Recomendo vivamente!


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