terça-feira, 20 de março de 2018

Jo Nesbø - Sangue Na Neve [Opinião]

Sinopse: AQUI

Opinião: Ainda que sinta falta de Harry Hole, foi com muito agrado que li Sangue na Neve. Como sabem, este é um stand-alone, com um protagonista muito peculiar. Mas já lá vamos...

O primeiro aspecto que, evidentemente, salta à vista é a parca quantidade de páginas. O último livro que li de Nesbø, A Sede, era extenso, com mais de 600 páginas. Este é claramente o oposto. É uma obra pequena, ficando-se apenas pelas 150 páginas, mas tem tanto no seu conteúdo que será o título ideal para ler, de uma assentada, numa tarde de ócio.

Devo falar, antes de mais, do que mais me agrada nos policiais nórdicos e que o autor não descurou (apesar do reduzido número de páginas). A par da trama, fascina-me os ambientes gélidos, tão próprios da região. Como tal, as descrições da cidade de Oslo, onde tem lugar a acção, deixaram-me rendida. É palpável o contraste de cor entre a neve e o sangue.

A segunda componente que devo realçar é a caracterização do protagonista, Olav, um assassino a soldo que se depara com uma missão, a de matar a mulher do patrão.

Gostei do facto de Olav ser o narrador da história. Este é, de facto, uma espécie de anti-herói. Não diria que seja sociopata pois o mesmo vai confidenciando aos leitores que se apaixona demasiado depressa. Relata alguns episódios da sua vida para que nós, leitores, sintamos uma proximidade com o protagonista mesmo que este tenha uma actividade profissional controversa.
Confesso que a maneira de ser de Olav me cativou muito e creio que será uma percepção consensual.
O autor esmerou-se na caracterização do protagonista, sem dúvida, embora tenha considerado que as demais personagens soaram um pouco superficiais. Careciam de um desenvolvimento mais profundo.
A parca caracterização das personagens secundárias dever-se-á, porventura, a um maior realce do protagonista.

No que concerne à trama, devo dizer que estamos, definitivamente, perante uma história tensa que explora a vingança e a traição de uma forma exímia. Se podia ser mais desenvolvida? Sem dúvida, 150 páginas souberam-me a pouco, mas creio que está tudo na história: um protagonista carismático, uma história aliciante e descrições fantásticas da capital norueguesa.

Portanto e como considerações finais, queria aconselhar os meus leitores a não se deixarem intimidar pelo ínfimo tamanho da obra. Pessoalmente teria gostado de ler mais ainda sobre esta história, contudo sinto que não é incompleta: a trama é cativante e tenho a certeza que Olav tornar-se-á um protagonista memorável. Algumas descrições são extremamente visuais. 
Mesmo sentindo falta de Harry Hole, Nesbø proporcionou-me um excelente momento de leitura com esta narrativa protagonizada por um invulgar assassino.


2 comentários:

  1. Acabei de ler o livro agora mesmo e concordo com a crítica. No entanto, a questão do número de páginas é, para mim, irrelevante. Já li obras brilhantes e muito curtas. Por exemplo, "O Banqueiro Anarquista", de Fernando Pessoa. Um dos livros mais marcantes, bem escrito e brilhante que já li. Achei o personagem deste livro, "Sangue na Neve", uma aproximação muito real de quem são, de facto, a maior parte dos criminosos que se mexem nestes cenários. A maior parte deles foram, eles próprios, vítimas de abusos, viveram situações de extrema dificuldade e o sistema de valores que formaram não é assim tão diferente do sistema dito "normal". Na verdade, somos capazes de encontrar menos valores morais e éticos em pessoas que têm a sorte de nascer e crescer em meios mais privilegiados. Foi uma estreia para mim e vou continuar a ler este autor. Venho aqui buscar as referências para os melhores policiais. Muito obrigada e parabéns por este trabalho. Um abraço. Sandra

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Muito obrigada Sandra! Fico muito feliz <3 Um grande beijinho e boas leituras!

      Eliminar