quarta-feira, 4 de abril de 2012

Nicci French - Segunda Feira Triste [Opinião]


Nicci French, o pseudónimo de Sean French e Nicci Gerard é um nome conhecido no thriller psicológico. Primeiro editados sob a chancela da Quetzal, li há uns bons tempos, todos os livros da dupla, sendo definitivamente o meu favorito Killing Me Softly.
Já há muito que ansiava por um novo romance que chegou sob a forma de Segunda Feira Triste, marcando o início de uma nova personagem, a dra Freida Klein, naquele que será um esforço de sete romances, remetendo-o a cada dia da semana.
Traduzido do inglês Blue Monday (homónimo da música alegre dos New Order), penso que o título português se adequa mais do que o original, pela sobriedade do nome (que traduzido à letra seria Segunda Feira Azul).

O prólogo é simplesmente angustiante na medida em que, retrocedendo até 1987, relata o estranho desaparecimento de Joanne Vine. A menina seguia a sua irmã mais velha até a uma loja de doces e quando Rosie olha para trás, apercebe-se que Joanne desaparecera e desde então nunca mais fora encontrada.
Já em 2009 conhecemos a dra. psicanalista Freida Klein. Com uma relação amorosa de cariz à partida indefinido com Sandy, é uma mulher com uma família destruturada. A irmã Olivia mal se relaciona com a própria filha Chloe e cabe a Freida ser mediadora desta relação. A terapeuta começa a acompanhar um paciente Alan Dekker, que tem frequentemente ataques de pânico. Numa das consultas ele revela o sonho de ter um filho... ruivo, praticamente igual a Matthew, um menino que agora desaparece e a dúvida surge: estará Alan implicado no desaparecimento de Matthew? E qual será a ligação deste rapto ao que ocorreu há duas dezenas de anos com Joanne?

Os ávidos pelo crime que se desenganem. Neste enredo, os autores cingem-se aos desaparecimentos, relatando por dois prismas a influência do desaparecimento de um filho.
Por um lado, o cenário dos anos 80s, a forma como a polícia encarava um caso deste tipo e como facilmente este poderia transformar-se numa pária. Há uma componente emotiva muito intensa por parte dos pais de Joanne e a forma como estes encaram a vida após esse acontecimento traumático. Na actualidade damo-nos conta de um esforço policial mais insistente, liderado pelo Inspector Karlsson. No entanto, a vida pessoal dos progenitores, a meu ver, é pouco explorada o que condiciona o enredo, que a certo ponto, é claramente desenvolvido, relacionando-o com o facto passado há 22 anos atrás.
Como tem sido hábito, a dupla opta por um registo mais psicológico jogando com o mistério que caracterizam ambos os raptos. Tendo em conta este pormenor, não é expectável que o livro traga momentos de acção constantes, pelo contrário. A leitura flui agradavelmente num ritmo lento, trazendo alguns momentos inesperados a que Nicci French nos tem habituado nas suas anteriores tramas
E desta forma, como já anteriormente referi, não há registo de linguagem violenta nem os próprios acontecimentos são caracterizados desta forma. O interessante foi assistir às várias consultas da Dra. Freida e a forma como um simples desabafo sobre as várias situações infantis, a fazem deduzir sobre as características que dotam o ser humano como adulto. Falo por mim, que acho fascinante a área da Psicologia.

Killing Me Softly, o Jogo da Memória, À Flor da Pele, A Casa Secreta, o Quarto Vermelho e O Mundo dos Vivos representam novidades entre si se tivermos em conta o enredo e as personagens.
Este é o primeiro livro que leio de uma saga escrita por French, apontando até que ponto não seria importante uma maior abertura por parte da personagem principal. Sou da opinião que, indiscutivelmente a protagonista de uma saga deve dar-se a conhecer praticamente na sua totalidade ao leitor. Sabemos alguns factos mas até que ponto estes serão suficientes numa saga de sete volumes? Ou os planos dos autores serão expandir mais ainda a vida de Klein em romances futuros? O mesmo digo para o Inspector Karlsson, de quem ainda menos se sabe e muita foi a curiosidade e a expectativa sobre este.
Em relação às restantes personagens, julgo eu que sejam apenas intervenientes deste romance, estão plausíveis e muito humanas. A angústia de querer um filho, sem que o possamos, o poder do marido que subjuga a sua própria mulher e o retrato de perder o seu descendente num rapto desconhecendo o seu destino, são as temáticas debatidas neste romance de uma forma intensa e dramática.

Não querendo justificar como, chegar à resolução do mistério é fácil se tiver em conta as personagens. Basta ter em conta que o caso é resolúvel e que existe um número reduzido de intervenientes na trama. Uma pitadinha de Poirot por trazer por casa induz a que cheguemos à resolução deste caso sem que fujamos aos trâmites da lógica e do que seria expectável. Um final relativamente em aberto para Freida, quando lhe desejámos toda a sorte à medida que a fomos conhecendo.

Um livro que gostei, particularmente interessante aos ávidos da Psicologia. No entanto poderão desiludir aqueles que procurem um registo mais violento. Resta-me inevitavelmente aguardar que a Bertrand publique mais livros de Nicci French desta saga e em breve. Recomendo!

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