quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Camilla Lackberg - Os Diários Secretos [Opinião]


Camilla Lackberg: um nome que dispensa já apresentações no fenómeno da literatura policial nórdica. Este é o quinto livro protagonizado pelo casal Erika Falk e Patrik Hedstrom e por mais sequelas que a autora nos apresente, ponho as mãos no fogo em que a qualidade se manterá.

Neste livro, Patrik está em licença de paternidade e é Erica que volta ao trabalho, como quem diz, de volta à escrita que requer um ambiente de sossego e acolhedor. Ou seja, sem crianças envolvidas. E entre as várias dúvidas e dilemas que vão tomando conta de Patrik, Erica distancia-se da tarefa de escrita do seu livro, para investigar os diários de Elsy, a sua mãe, com quem teve uma relação fria e quase isenta de carinho.
Neste cenário morre o historiador Erik Frankel, a quem Erica tinha pedido que analisasse a medalha de cariz nazi. Desta forma, Erica conclui que a descoberta do passado da sua mãe está directamente relacionada com o caso contemporâneo.

Desta forma é expectável que o livro englobe duas subtramas: uma referente à investigação do assassino do historiador, que nem é muito pesada e habilmente conduzida por equipa policial empática com o leitor. Cada oficial da polícia cativa à sua própria forma: a nova recruta Paula, de origem hispânica, e a sua adaptação na Suécia; Mellberg que está visivelmente mais feliz tendo em conta que a sua vida pessoal em Ave de Mau Agoiro, esteve profundamente abalada e Martin Molin, ansioso pelo dia em que será pai. Isto para não falar de Patrik que acompanha mais de perto o desenvolvimento da sua filha, Maja.
O segundo enredo tem lugar em 1943 a 1945 e é apresentado em pequenos capítulos dispersos ao longo do livro, tendo como protagonistas os jovens Erik, Axel, Frans, Britta e Elsy. Os primeiros quatro entram na narrativa contemporânea, e o leitor facilmente deduz que a solução para os crimes actuais reside no passado, sendo que a natureza da ligação entre as personagens é praticamente oculta quase até ao final do livro. De forma a enriquecer a narrativa, e de acordo com a fórmula usada pela autora, Lackberg incide igualmente sobre a vida familiar das personagens.

Lackberg apresenta então uma trama policial tendo como pano de fundo a Segunda Guerra Mundial. Apesar de não ser grande fã de História, como já referi diversas, nem sequer me interessar por guerras, achei extremamente interessante a subtrama dos anos 40, dando por mim a pesquisar o papel da Suécia face à Segunda Guerra. O curioso é que já li um livro de semelhante género, também de origem escandinava (O Pássaro de Peito Vermelho de Jo Nesbo).

Em Os Diários Secretos, a Segunda Guerra serve para explicar aquilo que foi deixado em aberto no livro antecessor, Ave de Mau Agoiro, que como se recordam, era uma medalha com elementos nazis e uma camisa com sangue, num baú de pertences de Elsy. Talvez tal marco histórico seja igualmente uma inspiração da figura histórica Raoul Wallenberg, para criar aquela que será talvez a personagem mais enigmática de toda a trama, Hans Olavsen.

Um livro em que a complexidade reside, como já é habitual, nas teias de interligações entre as várias personagens. Em particular neste livro, o crime foi de mais fácil resolução dado o número mais restrito de suspeitos que se poderiam contemplar. Claro que a autora recorre às habituais reviravoltas, surpreendendo mais uma vez o leitor naquele que é o desvendar da teia de relacionamentos entre as personagens secundárias.

No entanto, dado que leio esta saga desde o início, nutro já um carinho pelas personagens principais, e é sempre com ansiedade que conheço melhor a dinâmica das mesmas. Por isso, a autora continua a investir grande parte da trama na vida pessoal destas, contemplando não só a inexperiência de um pai nas lides domésticas, como o stress da escrita ou o desenvolvimento precoce da doce criança Maja, que agora conta com um ano de idade.

E mais um vez o confronto entre as culturas nórdica e mediterrânica, onde são levantadas uma série de questões sociais, onde são frisadas a homossexualidade que aparentemente não representa tanto preconceito e é bem aceite (especialmente em Estocolmo) e por antítese, o aumento de grupos neo-nazis na Suécia actual, explorando as consequências dos limites extremos do racismo.
A autora aborda também problemáticas como o alcoolismo ou famílias destruturadas, mencionando um caso de um relacionamento entre um ex casal que corre às mil maravilhas.

Em suma, Camilla Lackberg é para mim, um completo e envolvente registo de um excelente livro, contemplando personagens complexas mas que dotadas de uma panóplia de características e problemáticas comuns, um crime bem articulado e um núcleo familiar extremamente querido. Recomendo, além deste livro, a leitura da saga. Muito bom! Fico ansiosa que a Dom Quixote publique o próximo livro da autora!



4 comentários:

  1. Apaixonante. São 3:42, amanhã é dia de trabalho mas não podia deixar o fim para depois...

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    1. Olá Paulo!

      É verdade :) Esse livro, também o devorei! E é muito bom quando o livro nos prende até altas horas da madrugada! E que tal, gostaste?

      Beijinhos e boas leituras!

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  2. Bom... só agora vi a tua resposta e pergunta, eheheh Mais vale tarde que nunca :D Se gostei? Só tenho a dizer que de Agosto até à semana passada devorei os 4 primeiros. Respondi à pergunta? Beijokas e bons livros (no meu caso a par da outra "paixão" que é o modelismo)

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