Sinopse: Localizado no sul rural do Ohio e da Virginia, Sempre o Diabo segue um elenco de magnéticas e bizarras personagens, desde o fim da Segunda Guerra Mundial até 1960: Willard Russell - veterano atormentado pela carnificina no Pacífico Sul - que não consegue salvar a sua bonita mulher, Charlotte, da morte agonizante de um cancro, por mais sangue sacrificial que derrame sobre o tronco das orações. Carl e Sandy Henderson, a equipa de marido e mulher assassinos em série, rolando pelas autoestradas da América, em busca de modelos para fotografar e exterminar. Roy, o pregador tratador de aranhas e o seu sócio, Theodore, deficiente e exímio guitarrista. No meio de tudo isto, Arvin Eugene Russell, o filho órfão de Charlotte, que cresce e se transforma num homem bom, ainda que também violento.
Ligando a perversão de um Oliver Stone (em «Natural Born Killers») aos cambiantes religiosos e góticos de Flannery O’Connor, Donald Ray Pollock tece os fios da intriga de forma tensa e arrebatadora, revelando a enorme mestria de um novo narrador americano.
Opinião: Ao terminar a leitura de Sempre o Diabo, senti-me devastada. Um livro tão pesado, que provavelmente me teria passado ao lado se não fossem uns quantos leitores a chamar a atenção para o quão assombrosa é esta história. Diria que este efeito foi conseguido à custa das personagens.
São três as componentes desta obra, que acabam por se interligar posteriormente: um menino de 10 anos filho de um herói de guerra e de uma mulher que morre de cancro; um casal de assassinos (tendo-me lembrado do filme Kalifornia) com um modus operandi muito peculiar e um pregador que juntamente com o seu primo deficiente motor, pregam uma estranha crença, enganando uma série de pessoas.
Em torno de personagens tão diferentes há um elemento que as une: a fé e a percepção desta perante as diferentes (e duras) circunstâncias da vida. Vejo este livro quase como um corolário da Lei de Murphy pois testa as personagens até à exaustão. Repleto de acontecimentos trágicos que obrigam as personagens a escolhas, impensáveis para cada um de nós.
Muitas das passagens são simplesmente angustiantes, especialmente as relacionadas com o menino, o Alvin que teve de ser um adulto à força. Este foi, indubitavelmente, o personagem que mais me cativou ao passo que me senti horrificada com os demais, agindo sempre em conformidade com a imoralidade e a atrocidade. Justificando o título Sempre o Diabo, como se uma força maligna os movesse durante toda a história.
Não deixo de louvar o ambiente com que estas personagens se inserem. Principalmente nas passagens relacionadas com Alvin e os pais, e em particular, o local onde vivem, simplesmente assombroso. Sem que consiga explicar, senti-me como se estivesse a ler um livro ao estilo de Tim Burton. Estão patentes os elementos góticos e um ambiente sombrio que se coadunam com as circunstâncias da vida destes três itens que comentei anteriormente. Uma trama pejada de desilusões e traumas mas que ainda assim mantém viva uma pungência e um altruísmo comum que, mais ou menos evidente, existem em cada um de nós.
Não é um livro ávido, antes pelo contrário, a dureza dos acontecimentos apela a uma leitura mais morosa e reflectiva. Foge aos parâmetros do meu género preferido, o policial, mantendo sempre uma tensão psicológica, percepção que sinto aquando enveredo por esses livros. Dai ter apreciado tanto este emaranhado tão complexo de personagens tão sombrias.
Diria também a história induz a uma introspecção aos estereótipos de pessoas e lugarejos quase ermos e o quão enraízados se tornam alguns hábitos como o fanatismo da religião tão comum nestes locais.
Em suma, Sempre o Diabo destaca-se por ser um livro diferente, repleto de crueldade e escrito num tom sombrio, altamente invulgar. Psicologicamente chocante, sem dúvida que este é um dos livros que até hoje, mais mexeu comigo. Recomendo!
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