Opinião: O Filho Pródigo é o quarto volume da série policial da autora australiana que faleceu no início deste ano.
Uma saga, protagonizada pelo tenente Carmine Delmonico tendo como cenário, a América da década de 60, e como tal, baseia-se numa investigação à moda antiga, com incidência nos interrogatórios e métodos de dedução lógica.
Ainda que, temporalmente, haja um salto cronológico de cinquenta anos até aos dias de hoje, a narrativa debruça-se sobre algo bastante actual, ainda que com um trato algo imberbe: a manipulação de toxinas em laboratório, cuja absorção pode ocasionar um envenenamento.
É a partir do roubo de uma substância deste tipo, originando a morte do filho pródigo de Max, uma personalidade da alta sociedade, que a história se vai tecendo.
À semelhança dos outros livros que li da autora, Um Passo À Frente e Crueldade a Nu, a autora põe em retrospectiva a sociedade e a cultura dos anos 60, incidindo num aspecto particular e que captou a minha atenção, os casamentos biraciais. Actualmente, os mesmos são aceites, contudo, nesta altura era bastante controverso que uma mulher caucasiana se casasse com um negro, desse modo, a autora explora magistralmente os preconceitos que daí derivam bem como a percepção da sociedade perante as posições de poder que os negros almejavam alcançar.
Desta forma, a caracterização da personagem do dr. Jim Hunter, um dos raros cientistas negros da época, acaba por ser bastante profunda, se tivermos em conta o panorama desse tempo.
Ainda dentro da crítica sobre esta sociedade, a autora levanta outras questões como a emigração ou os casamentos por conveniência, crítica essa que se intensifica dado que a acção se passa no vilarejo de Holloman, onde a população se conhece demasiado bem.
Tanto as questões socio-culturais como a investigação do crime são temas abordados com igual importância na narrativa, senti, contudo, que esta última se processava a um ritmo moroso, talvez devido ao facto de ser uma investigação mais old fashion.
À medida que avançamos na leitura, apercebemo-nos que as personagens têm densas camadas de segredos que vão sendo progressivamente desvendados, residindo nesse facto o maior atractivo deste enredo. Senti-me surpreendida diversas vezes.
Além disso, o caso não deixa de ser intrigante não só pelo roubo da toxina como pelos factos subsequentes, na forma de uns quantos homicídios, alguns de natureza mais gráfica.
É difícil conter um sorriso ao ler sobre Carmine Delmonico e a sua adorável família. Adoro a sua esposa Desdemona, cujos "bitaites" sobre os casos costumam ser pertinentes e os filhos de ambos que se afiguram como extremamente encantadores. De certo modo, a formulação da personagem de Carmine recorda-me o Guido Brunetti das tramas de Donna Leon.
Ainda que este seja o 4º livro de uma série, penso que não seja
imperativo a leitura dos anteriores. Eu própria ainda não li o segundo, O Dia de Todos os Pecados.
Em suma, os livros policiais de McCullough assemelham-se a alguns clássicos da literatura policial, conferindo uma leitura interessante e mentalmente desafiante pelo recurso à lógica.
Devido ao falecimento da autora, esta série em questão termina (abruptamente, creio eu) no 5º livro, pelo que espero que a Bertrand equacione a sua publicação em breve.
Fiquei mesmo triste quando soube que a Colleen morreu. É uma grande perda!
ResponderEliminarVerdade Cris... Ainda tenho que ler esse clássico que é Pássaros Feridos ;)
EliminarTenho esse por ler wiiiiii!!!
ResponderEliminarMas discordo que os casamentos biraciais sejam aceites na actualidade. Houve um casal biracial que levou com uma carga de comentários horríveis em cima justamente por ser biracial :( Fiquei simultaneamente triste e revoltada. Eram um casal tão giro e pareciam amorosos e não mereciam ouvir o que lhes disseram
Acho que depende da mentalidade, Cata. Tenho na família um casamento biracial e para nós foi normal. Sou open minded ;) Beijo grande, minha querida! Nice to see you here
EliminarIsso é bom :)
EliminarDevia haver mais pessoas assim :p