quarta-feira, 13 de julho de 2011

Roslund & Hellstrom - Três Segundos [Opinião]


Antes de fazer a minha apreciação sobre o livro devo agradecer à Planeta Manuscrito pela parceria, o que ocasionou a leitura deste thriller sueco que desde logo me suscitou grande curiosidade.

O ex-presidiário Piet Hoffman, informador da polícia, infiltrou-se na Wotjek, uma rede de máfia polaca, que executa uma operação maciça de tráfico de anfetaminas ilegais. Mas esta é apenas uma faceta da vida de Hoffman. Ele é também um homem de família com uma esposa e dois filhos pequenos. Quando este se envolve numa transacção de drogas que corre mal, conduzindo a um homicídio, o detective responsável Ewert Grens ameaça arruinar a operação. Evidentemente que Hoffman aceita o derradeiro desafio e acaba por ir parar à prisão de alta segurança de Aspsås, onde de repente se encontra rodeado por inimigos.

Esta dupla comparada já a Stieg Larsson, na minha opinião, apenas tem em comum o tema da corrupção na Suécia. Este "Três Segundos" mostra no entanto, uma realidade mais dura, relacionada com o mundo das drogas. Quero acreditar que tal realismo subjacente no enredo tem a ver com o passado de um dos autores, Borge Hellström, ex-criminoso, como é indicado na biografia dos autores na contracapa do livro.

As personagens estão bastante realistas, em especial os dois protagonistas do enredo. Temos Evert Grens, um tipo rude e hostil, que vive uma vida de más memórias, sentindo-se assombrado pela culpa do que aconteceu à sua esposa Anni. Por outro lado Piet Hoffman, um homem arrojado, corajoso que vive no limite mas que ama a sua família incondicionalmente. A complexidade desta personagem vai muito além dos limites pré-definidos. Afinal qual é o pai tão carinhoso/marido afectuoso que faz frente aos desafios de um infiltrado numa rede criminosa e ainda assim esconde perfeitamente a sua dupla identidade? Um antagonismo de personalidades nas personagens principais, que resulta muitíssimo bem!

A própria estrutura do livro é diferente do convencional. Capítulos bastante curtos intercalam o desenvolvimento da história, tendo a particularidade de evitar nomes próprios, ao invés, usam pronomes (ele ou ela). O leitor desconhece quem é mencionado, mas este facto eleva a componente misteriosa do livro. Dividido em cinco partes, o enredo foca-se sobretudo em Piet Hoffman. Se o início parecia um tanto ou quanto lento, o mesmo não se pode dizer a partir da segunda parte da história. As demoradas dissertações dos autores sobre transacções de drogas não me atraíram minimamente, devo confessar. A partir do momento em que Hoffman entra na prisão de alto risco, dá-se uma sucessão de acontecimentos inesperados, parecendo que estamos a assistir a um episódio da série televisiva Prision Break. A quinta parte, mais curta que as restantes, revela um desfecho emocionante, mas que poderia ser mais aprofundado. É nesta fase que o leitor entende a verdadeira natureza do nome do livro, "Três segundos".
O enredo é multifacetado, complexo e difícil de digerir, dada a natureza dos relatos não só do submundo criminal, onde impera a violência bem como o encarceramento na prisão.
Além da forte componente policial, a narrativa é pautada por uma carga dramática bastante intensa, que se reflecte no dilema do protagonista em experienciar uma vida dupla.

O livro faz jus ao título ganho de Melhor Policial Sueco de Ficção em 2009, constituindo um thriller tenso e inquietante mas extremamente emocionante, onde a acção atinge níveis máximos. Um mundo de traições, violência e sacrifícios pela família em prol de uma actividade arriscada como acredito que seja um infiltrado em redes criminais, por parte da polícia.

Comparo este livro a uma viagem de montanha russa numa realidade perturbadora, que todos nós evitamos conhecer. Aconselho vivamente, especialmente aos fãs de policial sueco! Um livro que não devem perder, de forma alguma!


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