domingo, 20 de julho de 2014

Lauren Beukes - As Raparigas Cintilantes [Opinião]

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Opinião: Se pudesse caracterizar As Raparigas Cintilantes com apenas um adjectivo, este seria incomum na medida em que se centra num serial killer com a habilidade de viajar no tempo. Estas viagens eram feitas por intermédio de uma casa, quase em estado devoluto mas com as capacidades de um DeLorean.
É portanto um aspecto que atenua o efeito de realismo na história, remetendo o leitor para um plano da ficção científica. Ora, uma leitura ideal para quem aprecia o género em questão. 
Um outro ingrediente também pouco usual (embora este seja um pouco mais comum do que o anterior) é o facto de nos ser desvendado, logo no início, a identidade do homicida, Harper Curtis. Para os fãs do género policial, muitos concordarão que a grande surpresa é maioritariamente a descoberta do assassino, pelo que, ao longo da leitura, senti-me na expectativa com o que se seguiria.

Daí que, tenho que vos ser sincera, durante as primeiras páginas não sabia o que pensar do livro. Por um lado, gostara de entrar na mente de Curtis, até porque pelo que parece, está provado cientificamente que o cérebro de um serial killer é diferente dos demais. Um homem cruel, estranho que tem como uma gratificação o acto da masturbação, podendo esta recompensa estar desfasada décadas antes ou depois dos crimes. À medida que Curtis se desloca entre os anos 30s e 90s e matando as suas vítimas, vai deixando ícones anacrónicos com os cadáveres, o que permite o leitor acompanhar um pouco as gerações abrangidas no enredo. 

Como devem calcular, normalmente prefiro as explicações racionais e plausíveis nos deslindares dos casos de investigação policiais. Pelo que livro peca ou destaca-se, como queiram chamar, por ter um serial killer de modus operandi tão inverossímil. Definitivamente, é preciso estar open minded para a leitura que se segue.

Por tratar de um protagonista viajante no tempo, a narrativa está organizada em capítulos cronologicamente desordenados. A história ora avança algumas décadas, ora retrocede. Acaba por ser algo confusa a forma como se organiza a narrativa numa primeira fase mas à medida que vamos contactando com as raparigas cintilantes, inicialmente em tenra idade, acaba por ser inevitável um laço entre as personagens e o leitor. A dificuldade dos saltos temporais acaba por ser secundária face à vontade de conhecer mais sobre as vítimas que se instala naturalmente.
Naturalmente que entre as personagens, Kirby acaba por se destacar. É ela quem escapa ao ataque de Harper e que mais tarde se dedica à investigação, correlacionando os vários factos referentes aos homicídios das raparigas. Numa passagem altamente comovente e aflitiva, o leitor apercebe-se como ela escapou de Harper, resultando em múltiplas cicatrizes. Para mim, este foi o ponto alto da trama, quase tão emocionante como a descrição dos homicídios. Gostei principalmente destas, dotadas de violência. Pessoalmente, como apreciadora deste pormenor na literatura policial, agradou-me muito ter-me deparado com um livro tão fora do convencional e no entanto, mantendo este nível de pormenorização tão gráfico.

Em suma, este conceito das viagens no tempo resultou bem no género thriller, tornando-o deveras original. É o primeiro que leio nestes moldes. Não obstante, acaba por ser este o aspecto inovador pois a história não trouxe, a meu ver, surpresas significativas. São as reviravoltas no enredo, muitas delas com um twist final, que me deixam entusiasmada. Claramente que este foi um aspecto descurado, pois o enredo, apesar dos saltos temporais, é relativamente linear. Não desgostei do livro, indubitavelmente As Raparigas Cintilantes proporcionou-me uma leitura diferente dos moldes habituais. No entanto, confesso que não me entusiasmou tanto quanto esperava, pelas razões que menciono acima.

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