Sinopse: Uma manhã de verão no Missouri. Nick e Amy celebram o 5º aniversário de
casamento. Enquanto se fazem reservas e embrulham presentes, a bela Amy
desaparece. E quando Nick começa a ler o diário da mulher, descobre
coisas verdadeiramente inesperadas…
Com a pressão da polícia e dos media,
Nick começa a desenrolar um rol de mentiras, falsidades e
comportamentos pouco adequados. Ele está evasivo, é verdade, e amargo -
mas será mesmo um assassino?
Entretanto, todos os casais da cidade já
se perguntam, se conhecem de facto a pessoa que amam. Nick, apoiado
pela gémea Margo, assegura que é inocente. A questão é que, se não foi
ele, onde está a sua mulher? E o que estaria dentro daquela caixa de
prata escondida atrás do armário de Amy?
Com uma escrita incisiva
e a sua habitual perspicácia psicológica, Gillian Flynn dá vida a um
thriller rápido e muito negro que confirma o seu estatuto de uma das
melhores escritoras do género.
Opinião: Há uns anos atrás, li um livro muitíssimo bom chamado Objectos Cortantes. Não me recordo completamente da história, daí que há uns tempos para cá esteja com vontade de o reler. Era de uma autora, de seu nome Gillian Flynn. Por isso quanto tive conhecimento que a Bertrand iria publicar mais uma obra sua, fiquei extremamente satisfeita.
A estrutura da trama é de facto bastante original, sendo feita através de testemunhos que se alternam entre os diários de Amy, que remontam a anos antes e o de Nick, debruçando-se este sobre os acontecimentos na actualidade. Este aspecto, a meu ver, confere uma profundidade nas perspectivas das personagens, privilegiando o leitor aos pensamentos mais íntimos e sentimentos, justificando os segredos mais profundos.
Fazendo uma clara distinção entre a mente masculina e a feminina, a autora expressa assim a sua versatilidade na escrita. Amy com testemunhos, inicialmente mais joviais contrapondo-se aos de Nick, com pensamentos mais sóbrios com cariz entusiasticamente masculinos, revelando em catadupa vulnerabilidades no seu casamento, aparentemente perfeito.
Os diários, embora com espaçamento temporal, acabam por convergir na natureza dos testemunhos.
Ao desaparecimento de Amy podemos associar desde já três hipóteses: ou ela foi raptada, ou desapareceu pelos seus próprios meios ou terá morrido, vítima de um homicídio, sendo que as culpas estão sucessivamente colocadas em Nick. Relativamente a meio do livro, começa a desenhar-se o que aconteceu, mas ainda assim as revelações sucedem-se. Foi um livro que me surpreendeu por diversas vezes, acabando por fazer sentido a frase da capa: "Acha mesmo que conhece a pessoa que dorme ao seu lado?"
O índice foi estrategicamente colocado no final uma vez que o título dos capítulos poderão eventualmente trazer spoilers. Um conselho: não sejam curiosos como eu!
Apesar da história ser de facto, excelente, há um facto que se impõe: o livro tem para além das 500 páginas. Pessoalmente acho que a história poderia ser mais encurtada mas por outro lado, se assim fosse, penso que a profundidade das personagens não seria tão completa e até complexa, como de facto achei que é.
Apesar da morosidade da trama, espelhando ao mesmo tempo um arrastar de um mistério muito intenso, os diálogos são ricos, denotando-se as diferenças entre os pontos de vista de cada personagem. A autora teve o cuidado de tornar a narrativa tão natural quanto possível, por isso é expectável um registo comum aos testemunhos, que envereda até à linguagem do calão. No entanto, toda a trama é circunscrita ao thriller psicológico, estando praticamente isenta de passagens com teor de violência física.
Nada quero desvendar sobre a trama, mas tenho que registar a minha incredulidade face ao desfecho, que esteve muito longe do que eu esperei, e que para mim foi pouco plausível face à intensidade e quantidade dos acontecimentos aqui narrados. Uma pequena decepção que me impossibilitou de dar 5 estrelas no Goodreads, site da internet privilegiado por bibliófilos, onde este livro teve o maior número de recessões no ano transacto.
Em Parte Incerta, foi para mim uma leitura que antecipa os medos da vida conjugal. Brilhantemente negro, explora com mestria, os limites do amor, do sacrifício, da traição e das mentiras. Gostei mesmo muito e recomendo!