Annie O´Sullivan, de 32 anos, relata em primeira mão e em formato de monólogo, o seu rapto e cativeiro (tendo durado um ano) nas sessões com a psiquiatra. Ora sabendo de antemão este facto, facilmente deduzimos que o sequestro terminou da melhor forma. A vítima sobreviveu, apesar das mazelas e do trauma, e ela está de volta à sua comunidade. Ainda assim, o enredo torna-se extremamente interessante, uma vez que o leitor não sabe o que realmente aconteceu à protagonista.
Desta forma, cada capítulo do livro corresponde a uma sessão na terapia de Annie, que começa por explicar como foi raptada, relatando todos os acontecimentos ocorridos em cativeiro, obedecendo à linha cronológica real. A autora formula capítulos pequenos, em que Annie se dirige inicialmente à terapeuta mas embrenha-se no relato do terror que viveu, recorrendo de igual forma, a flashbacks de acontecimentos passados.
A protagonista dirige-se ao seu raptor, apelidando-o de "Tarado" e revela toda a informação alusiva à caracterização standard de um psicopata. Desde os rituais humilhantes para com a vítima (e as punições decorrentes do não cumprimento destas regras) até à relação com o Eu (do Tarado) Facilmente se traça o perfil de uma pessoa que aparentemente normal, apresenta desvios na sua personalidade. Todo o relato atinge proporções doentias, sádicas, aterradoras... extremamente perturbadoras. Todos e quaisquer adjectivos são insuficientes para descrever a angústia que tal livro transmite ao leitor. Estamos portanto, perante um livro tão gráfico que cheguei a sentir raiva do que estava a ler, de tão reais os acontecimentos narrados!
Mas estes relatos estendem-se para além da experiência em cativeiro, falando também da relação da protagonista com a mãe, o padrasto, a amiga Christina e o namorado Luke. Um livro que, apesar de transmitir sentimentos como a angústia, terror e sofrimento para com a personagem principal, faz com que reflictamos sobre a vida e valorizemos os nossos entes queridos. Dá também que pensar nomeadamente nos casos de Natasha Kampusch e da filha de Josef Fritzl, bastante semelhantes ao conteúdo do que é narrado. E mais: faz-nos temer quando, ainda que na nossa completa inocência, comunicamos com alguém estranho, mesmo em circunstâncias meramente profissionais!
Inúmeras perguntas se impõem aquando o rapto de Annie. Acima de tudo, terá sido este meramente aleatório? Qual será a verdadeira identidade do Tarado? Como terá Annie conseguido libertar-se? A um ritmo bastante acelerado, a autora acaba por responder a estas questões, de uma forma brilhante e acima de tudo, surpreendente!
Um enredo vicioso, associado a um estilo de escrita acessível por parte de Chevy Stevens fizeram deste livro uma rápida e bastante intensa leitura (duas noites!!!). Associado a este facto, a narrativa possui um desfecho brutal e completamente inesperado! Valerá a pena a destruição de uma vida em nome de um capricho?
Desta forma, e pelos motivos anteriormente explanados, este foi um livro que imediatamente ganhou um lugar cativo no pódio dos melhores livros lidos este ano. Recomendo vivamente! Um thriller simplesmente espectacular!!!