segunda-feira, 26 de março de 2012

Franck Thilliez - Síndrome E [Opinião]

Apesar de ser fanática pela leitura policial, devo confessar que em termos de literatura francesa, dentro deste género, sou muito leiga. Apenas conheço Fred Vargas e Jean-Christophe Grangé, e a vontade de explorar outros autores é contínua, de forma a que optei por ler um livro escrito por um conterrâneo, Franck Thilliez. Esta foi a minha estreia no autor.

Ora a sinopse pouco deixa adivinhar no que aí vem... é um enredo misterioso, com conspiração e aparentemente à partida, alguns laivos de sobrenatural. Afinal a primeira passagem do livro muito se assemelha ao filme The Ring: o visionamento do filme que dita o destino de uma personagem. Neste caso, Ludovic Sénéchal fica cego após ver uma película antiga e rapidamente contacta a ex namorada que trabalha na polícia, Lucie Hennebelle. Entretanto o comissário Franck Sharko é responsável pela investigação de cinco cadáveres com os crânios serrados e olhos vazados. As evidências sugerem que os casos podem estar relacionados mas ao investigar sobre os mesmos, Hennebelle e Sharko irão viajar até ao Egipto e depois ao Canadá para mergulhar nos mais ínfimos segredos que alguém pode carregar.

Mas vamos por partes:
Com este livro volto uma vez mais às temáticas das subtramas paralelas, sem aparentemente ligações. O certo é que esta fórmula resulta e facilmente origina histórias cativantes e intrincadas, deixando o leitor intrigado. Neste caso em concreto, o autor consegue formular um enredo entusiasmante, cheio de acção e muito mas muito misterioso a partir de cinco crimes iniciais, e um estranho e sádico filme, visionado em Lille a duzentos quilómetros do local cenário da outra subtrama.
Dizer que este livro é um policial é pouco pois são várias as componentes que o caracterizam: desde acção, policial, drama e thriller psicológico. Até há lugar para considerações sobre ciência, nomeadamente neurologia. É um livro riquíssimo, que combinando estes vários géneros literários, resulta numa história digna de um filme. Decerto que este livro daria uma brilhante adaptação cinematográfica.

Apesar de ser fanática pela cultura egípcia, devo confessar que foi particularmente difícil reter tantos nomes árabes referentes aos diferentes locais por onde Sharko se movia bem como das personagens. Esta viagem do comissário ao Egipto representa uma incursão a um mundo diferente do ocidental mas ao mesmo tempo tão semelhante se tivermos em conta os limites e os requintes de malvadez que obscuramente se esconde em cada um de nós. Não achei que o autor fizesse exaustivas descrições dos cenários afim de se cingir à narrativa. Talvez por isso não tive aquela sensação de estar a viajar juntamente com os protagonistas nos países do Egipto e posteriormente no Canadá tal é a forma impessoal que o autor descreve os cenários estrangeiros.

Além da componente do mistério há uma faceta mais pessoal das personagens. Há todo um background sobre o passado tanto de Hennebelle como de Sharko, que terá influenciado a forma como lidam com a vida. Depois achei fantástica a relação entre Hennebelle e Sharko a partir do momento em que se conhecem. A tensão sexual existente entre os dois, faz com que no íntimo desejemos que eles se relacionem. E claro, tal relacionamento começa a tomar forma à medida que ambos se envolvem na investigação do caso.

Estruturado em capítulos muito curtos, que intercalam inicialmente as subtramas referentes à de Hennebelle e de Sharko, acabam por convergir numa inesperada sucessão de acontecimentos que deixarão o leitor de boca aberta, chocados pelo nível de violência. O autor utiliza uma linguagem bastante gráfica, afinal Thilliez descreve com bastante mestria na arte do terror, aqueles que são os estranhos vídeos visionados por Sénéchal, deixando uma sensação bastante desconfortável e até perturbadora. O aspecto mais fascinante na trama é, a meu ver, a forma como uma pista conduz a uma outra, não sendo de todo fácil prever os acontecimentos seguintes. E desta forma, praticamente todas as passagens são de muita acção e adrenalina.
Além disso, o autor tem uma preocupação em dar um lado mais humano às personagens, dotando-as de características especiais: Sharko é esquizofrénico e tenta a todo custo que a doença não influencie no trabalho policial. Hennebelle tem uma relação conturbada com a mãe.

Um enredo que algo se assemelha a alguns filmes de terror que vi mas é original em termos de literatura. Tem uma história interessante e o que, inicialmente seriam laivos na área do sobrenatural, o autor facilmente interpõe alguns factos científicos para explicar o que à partida parece inexplicável. Para geeks da ciência como eu, não foram suficientes para me deixar completamente convencida. Mas reconheço que este é um bom livro no que concerne à trama e às personagens.
E se há algo que se sobrepôs neste magnifico romance policial foi o desfecho. Certo é que, após muitas investidas lá se conseguiu descobrir a identidade do assassino e as suas motivações. O que me chateou verdadeiramente foi a forma como terminou o epílogo. De facto este era perfeitamente dispensável. OK, nem todos os policiais têm um final feliz, e este enquadra-se justamente nesse grupo. O final deixa antever que este livro terá certamente uma sequela, o que me faz ansiar para que a Sextante Editora publique mais rapidamente esta obra. Decerto que trará melhor rumo às personagens de Lucie e Franck. Gostei e recomendo!

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