Opinião: Esta obra suscitou-me imediata atenção por se tratar de um true crime. Não conhecia, porém, a protagonista, pelo que segui para a leitura sem saber com o que me iria deparar ao certo. Foi muito duro. Fiquei muito angustiada com esta narrativa sobretudo porque fui recentemente mãe (eis a razão do meu súbito desaparecimento) e muitos dos detalhes aqui são punições/agressões a crianças, o que me toca de uma forma muito particular. Mas a violência contra crianças não é a única situação digna de ser realçada aqui: também há, a dois adultos, o que torna todo este caso um pouco surreal. Porém debruçar-me-ei sobre esta questão mais adiante.
Como sempre, não quero levantar muitas pontas do véu sobre a história, no entanto, é muito fácil saber pormenores sobre a mesma - estava tão curiosa com esta antagonista que fui ver alguns documentários sobre este caso, tendo ficado a saber antecipadamente os contornos de toda esta trama - e, mais uma vez, fiquei incrédula com esta "pessoa". Recomendo então que se coíbam de pesquisar sobre Michelle/Shelley Knotek no decorrer da leitura para evitar qualquer spoiler e que, deste modo, consigam ser mais impressionados pelos factos que estão a ler. No meu caso, tal não aconteceu. Já sabia até o desfecho do caso pelo que percorria as páginas, já a aguardar pelo último acto da narrativa.
Basicamente, esta obra acaba por ser um sucedâneo de relatos de tortura às personagens que privaram com Shelley. Impressiona e é muito difícil ler este livro. Recordo-me que comecei a lê-lo, estava a minha filha doente em casa e, enquanto a supervisionava a brincar com os seus brinquedos, ia lendo uma página aqui, outra acolá, tendo suspendido a leitura muitas, muitas vezes por conter passagens bastante duras. E abracei a minha bebé muitas mais por achar inconcebível uma mãe fazer este tipo de barbárie aos seus filhos - sempre fui contra a violência e neste momento sou-o mais ainda. Acompanhamos também a evolução das filhas, a relação delas entre elas e com um sobrinho que também foi acolhido no lar de Shelly. Há aqui bastantes situações de difícil compreensão e esta minha sensação intensificou-se aquando a melhor amiga de Shelly, Kathy, vai também viver para o lar dos Knotek para ajudar na lida da casa e com a logística das crianças.
Foi nesta altura que comecei a pensar no comportamento das pessoas que lidavam com Shelly e pareceu-me que era muito standard, muito padronizado e semelhante entre todos mesmo sendo pessoas diferentes. Acabei por investigar sobre isto - seria também facto verídico ou ficcionado para parecer ainda mais chocante? Foi então que encontrei no Youtube alguns documentários true crime dedicados a Knotek e, caramba, realmente tenho que aceitar que a senhora exercia um poder de persuasão tão intenso que tornou todos ao seu redor meros joguetes nas suas mãos - eu sou, por norma, uma pessoa muito contestatária e há situações com as quais lido mal. Creio que todos nós, em alguma fase da sua vida, terão conhecido pessoas com as quais não querem estar. E acaba por ser inevitável afastar-se. Ou, se forem como eu, fazem uma tempestade seguido por um ponto final nessa relação. Atitude esta que nenhum, sublinho, nenhum teve. Toda a gente continuou a lidar com Shelly, que, de personalidade altamente manipuladora, é mais do que uma pessoa tóxica, entrando já no quadro de psicopatia. Falo dela como pessoa e não como personagem pois, volto a ressalvar, isto é verídico e ela continua viva.
Tudo isto é-nos relatado pelas filhas da vilã ao escritor Gregg Olsen. A minha segunda crítica prende-se com a forma como o livro é narrado. Sim, senti-me impelida a lê-lo em poucos dias, é certo, mas creio que a obra traria ainda maior profundidade caso fosse narrada directamente pelas irmãs. Tenho a sensação que a informação transmitida em discurso indirecto pode perder algum conteúdo. A meu ver, a narrativa também teria sido enriquecida caso tivesse algumas alusões temporais. Por vezes tive a sensação que eram episódios chocantes aleatoriamente narrados sem ordem cronológica, sensação essa que se intensificou quando nasceu a irmã mais nova, Tori, parecendo que o tempo estagnara e ela era bebé por um tempo indefinido.
Nesta altura, fala-se de Ron e, mais uma vez, volta a haver descrições de todo um comportamento submisso e vulnerável - já observado em personagens anteriores e estava, ainda, a tentar aceitar - o que, creio não se coadunar com a idade adulta e, em especial este homem, que mostrava uma inteligência acima da média. Mas, mais uma vez, através do documentário fiquei a perceber que tudo se passou dessa forma, o que me deixa ainda mais perplexa sobre todo este caso. Apesar de me questionar sobre o comportamento destas pessoas - não sou da área da Psicologia nem possuo ferramentas que justifiquem todas as atitudes de alienação - creio que é inquestionável que esta trama será demasiado forte por aludir a situações de violência deveras chocantes e marcantes. É um livro que dificilmente sairá da minha retina, por esse motivo.