domingo, 27 de novembro de 2011

Mons Kallentoft - Segredo Oculto em Águas Turvas [Opinião]


Este é o terceiro livro da tetralogia de Mons Kallentoft, tetralogia essa onde cada volume corresponde a uma estação do Ano. Acompanho desde o início, esta saga protagonizada por Malin Fors que teve como primeira investigação, Sangue Vermelho em Campo de Neve, correspondendo ao crime ocorrido na estação do Inverno.

Um dos aspectos que é importante destacar é a rapidez com que a editora D. Quixote publicou este livro. Após ter lido Anjos Perdidos em Terra Queimada, no passado Verão, foi com uma enorme surpresa e agrado que tive conhecimento da publicação do terceiro livro, pouquíssimos meses após a saída do segundo volume. A editora tenta acompanhar as estações do ano para lançar o livro alusivo aos mesmos, mas Mons Kallentoft não terá certamente equacionado este estranho fenómeno das alterações climáticas, tendo nós a sensação de ter passado do Verão imediatamente para o Inverno.

Esta é daquelas sagas onde não considero fundamental a leitura dos livros por ordem de publicação. É certo que os protagonistas são os mesmos, mas os casos descritos são completamente independentes. Neste livro, a personagem fulcral da trama é Jerry Petersson, um advogado ávido por dinheiro e que compra o castelo de Skogsa à estranhíssima família abastada Fagelsjo. Eis que este, misteriosamente aparece morto no fosso do castelo. Quando Malin Fors e a sua equipa investigam o caso irão descobrir que Petersson era mais do que um simples advogado. Tem segredos que poderão explicar o porquê deste destino...

As primeiras páginas do livro ditam um destino conturbado para Malin Fors. que se depara com um problema pessoal. Para os mais ansiosos, diria talvez que este início é um pouco lento, debruçando-se essencialmente na vida pessoal de Fors. Desta forma, é feito um enquadramento da situação familiar da inspectora que mudou radicalmente nas suas relações nomeadamente com a filha Tove e o ex-marido Janne. Conforme sabem os leitores da tetralogia de Mons Kallentoft, o último livro, Anjos Perdidos em Terra Queimada, teve um desfecho não muito positivo para Tove. De facto, as marcas na filha da inspectora tiveram tal proporção que catapultaram a mãe para um precipício de destruição. No entanto, este contexto pessoal da inspectora é importante, especialmente para quem pretende ler o Segredo Oculto em Águas Turvas, sem recorrer à leitura prévia dos livros anteriores.

O autor volta a usar aquela que foi a fórmula que o distingue dos restantes policiais: a introdução de relatos dos falecidos intercalados na narrativa. Inevitavelmente isto resulta... Se é maçudo ou repetitivo, perguntam vocês, eu diria que não. Com estes testemunhos, acabamos por conhecer um pouco da personagem que até aí funcionou quase como um mero figurante, mas que acaba por ter um papel vital na trama: o de vítima de homicídio. Kallentoft preocupa-se assim em dar um ponto de vista sobre a morte, e o que terá sido a existência dessa personagem para que o leitor sinta alguma proximidade e eventualmente empatia com a mesma. E em geral, estas vítimas que vão sendo comuns nos livros do autor, têm diferentes personalidades e todas carecem de um mau íntimo.
Afinal "dar vida" aos mortos é uma ideia controversa mas de certa forma inovadora na literatura policial e interage muito mais com o leitor do que as vítimas de homicídio com que nos costumamos deparar.
Também denotei uma evolução no autor, nomeadamente através do realismo de descrições espaço físico onde decorre a acção, falo sobretudo do castelo. Senti uma familiaridade com certos elementos portugueses e tentava constantemente estabelecer comparações com os nossos castelos e palácios. Agrada-me particularmente a escrita de Kallentoft, que abraça a vida pessoal das personagens com a investigação dos casos, mas sobretudo, acho aqueles monólogos dos mortos, algo de outro mundo. O leitor quase que sente na pele o clima de sobrenaturalidade que o autor realça nessas passagens, e que, brilhantemente, se adaptam no meio da narrativa do "mundo real".

Grande parte das personagens são comuns aos livros anteriores. Comecemos então por Malin Fors. Se a inspectora era alvo de admiração anteriormente, aqui esta personagem decai e no início, o leitor muito dificilmente sentirá algo além de pena e compaixão... As restantes personagens, já nossas conhecidas, debatem-se com os seus problemas pessoais, nem os considerados heróis da trama (toda a hierarquia da polícia) estão imunes a uma panóplia de problemas que se reflectem essencialmente nas suas vidas.
Em relação aos irmãos Katarina e Fredrik Fagelsjo, que família! Fiquei impressionada por duas personagens que nem se dão muito a conhecer, mas que conseguem fascinar sobremaneira o leitor. São de facto personagens complexas, mas muito reais, ao longo da narrativa, levanta-se a dúvida "Que terão eles a esconder em relação à sua fortuna e a necessidade de terem vendido o castelo?"
Só apontaria o facto do autor, a certo ponto, me ter confundido com nomes das personagens tão parecidos quanto Anders e Andreas e que desempenham papéis relacionados na trama... Por si a antroponímica sueca já é consideravelmente complexa.

Achei que o livro aborda temas bastante credíveis e até comuns na sociedade actual. Falo portanto do alcoolismo (e a facilidade que se cai num vício deste tipo) e as consequências de uma mentalidade deveras ambiciosa, explorando o trauma e a evolução deste quando o mesmo não fica bem resolvido.

Um livro cuja estrutura é deveras fascinante. O autor envolve a trama com dois pormenores: o primeiro, já comentado, os monólogos dos mortos, que conferem uma certa originalidade à narrativa. O outro, já visto outrora em policiais, é o recuo temporal. O autor, à semelhança da conterrânea Camilla Lackberg, incorpora acções passadas nos anos 70 e 80, para nos apresentar em primeira mão, factos que terão alguma importância na actualidade. Ao longo de todo o livro, há o desvendar de inúmeros pormenores tanto sobre Petersson como sobre a família que deixarão o leitor boquiaberto.

Se o livro acaba bem...? Terá que ser o próprio leitor a descobrir, embora me sinta impelida a chamar a atenção para o desfecho da narrativa relativamente à personagem Maria Murvall, desfecho esse que nos deixa com uma enorme curiosidade relativamente ao último volume da saga.

Um livro que não posso deixar de recomendar aos fãs do policial. E não escondo que, dos três livros, o segundo foi até à data o meu preferido. Ainda assim fico, ansiosamente, à espera do quarto e último volume desta saga que acredito, irá marcar os fãs deste género.

13 comentários:

  1. Este já comecei a ler. Acho que agarra mais cedo que os outros. E apesar das histórias serem distintas é bastante importante ter lido os anteriores. Ainda vou muito no início e quando acabar virei aqui deixar mais um comentário. Fiquei com a pulga atrás da orelha em relação à Maria Murvall.

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  2. Psipsina, este vais adorar! Mons Kallentoft é excelente! Tenho a certeza que no final vens cá dizer que adoraste o livro ;)

    Uma excelente leitura! Um grande beijinho para ti

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  3. Olá V.

    comecei a ler ontem o livro e estou a gostar. Espero que seja tão bom ou melhor que os dois anteriores.
    E depois é esperar por mais ;)

    bjinho

    CAE

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  4. Vais adorar!!! Quando terminares diz qq coisa ;)

    Um grande beijinho, boas leituras!

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  5. Olá V.

    E finalmente acabei de ler o livro e confesso alguma “desilusão”. Depois de um bom aquecimento com o primeiro livro da saga, adorei o segundo volume e tinha grandes expectativas para este Outono. Talvez levado por essas mesmas ideias acabo este Segredo Oculto... com a sensação de que o livro poderia (e deveria) ser diferente. A trama da história continua bem delineada mas achei que a mesma foi muito mastigada e que demorou muito tempo a chegar ao clímax. A personagem de Malin Fors continua bem construída, cada vez mais a assumir o papel de mártir em auto-flagelação, mas as muitas outras parecem lateralizar e, em minha opinião algumas delas mereciam melhor enquadramento na história. Não quer com isto dizer que não gostei de ler. Este terceiro volume continua a entusiasmar, tem uma ação muito cinematográfica mas...sim, fiquei com este mas na cabeça que espero desenrolar já com o próximo volume e, pelo que parece, por um quinto...

    Aproveito a oportunidade para desejar boas festas a todas e boas leituras!

    Bjo

    CEA

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  6. Olá CEA!

    Pois, eu entendo-te! Acho que nada bate o segundo, e o primeiro...bem, esse gostei imenso! Houve partes mais paradas mas enfim.... e a personagem principal decaiu muito. Foi como disse em crítica, era uma personagem que admirava pelo seu raciocínio e modo de agir mas depois... Mas vamos aguardar pelo quarto volume, pode ser que venha dai uma surpresa :))

    O que lês agora?

    Um grande beijinho, boas leituras! E um santo e feliz Natal para ti!

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  7. Agora vou ler o 1Q84 do Murakami, livro que tenho uma enorme curiosidade. A ler vamos ;)

    bjo

    CEA

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  8. Alguem me pode dizer alguns livros deveras interessantes e entusiasmantes como os acima descritos? É q eu queria continuar a minha leitura e nao sei muito bem q livros ler.

    Obrigado :)

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  9. Ermmm... estou agora a ler o Terceiro Gémeo e estou a gostar muito, mas não é assim muito imprevisível. Mas estou a gostar muito da história! Tess Gerritsen também é giro. Se gostas de suequices, então aconselho Asa Larsson e Lars Kepler...

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  10. Qual é a sequência que devo seguir? Acabo de ler o Sangue vermelho num campo de neve. Os outros seguem por esta ordem?
    2ºAnjos perdidos em Terra queimada
    3º Segredo oculto em águas turvas
    4º Flores caídas no jardim do mal
    5ºA quinta estação?

    Muito obrigada pela ajuda

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    1. Olá Dina!

      Exacto, +e essa a ordem correcta!
      Gostou do Mons?

      Um grande beijinho e boas leituras!

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    2. Na newsletter o último livro dele chamou-me a atenção, mas antes fui ler o 1º. No início estranhei um pouco o estilo de escrita, mas depois foi viciante. Quero muito ler os outros todos :) Obrigada pela ajuda

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