quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Dan Buthler & Dag Öhrlund - Mord.Net [Opinião]


Se há adjectivo que caracteriza uma das minhas colecções preferidas em termos de policiais, Minutos Contados da Editorial Presença é a panóplia de thrillers que esta contém. Como tal, Mord.Net veio acentuar essa diversidade, uma vez que é um livro diferente na medida que aborda as consequências de uma utilização pérfida da maior e mais complexa ferramenta que a sociedade global hoje nos apresenta, a internet. Basta atentar no título do livro: Mord.Net.

Em vários países do mundo, vão, aleatoriamente, ocorrendo homicídios com modus operandi semelhantes. Sem qualquer certeza sobre os autores do crime, estes são considerados pelas autoridades homicídios perfeitos, na medida em que não existem testemunhas, nem motivos, nem sequer vestígios do autor.

Um ponto que distingue esta trama de outras narrativas do género policial, é a forma como a investigação policial é quase relegada para segundo plano, enfatizando os agressores ou aqueles que, por circunstâncias do destino, se tornarão vitimas. Os autores apresentam várias personagens, munindo-as de um passado com as respectivas problemáticas explanadas em muitas e extensas descrições. Assim, estas tornam-se extremamente verosímeis e aproximando-as do leitor.
Se as próprias diferenças culturais são determinantes para a formulação das personagens, estas tornam-se ainda mais complexas devido a problemáticas várias como homossexualidade, pedofilia ou traumas de guerra.

Contudo tanto os protagonistas, como os antagonistas vão além de meros cidadãos. Nesta narrativa vamo-nos apercebendo como o plano das organizações policiais dos vários países reflectem bastante as diferenças culturais, como os próprios objectivos e missões para com as respectivas comunidades, tendo, por isso, modos de actuação e alvos distintos. Veja-se o caso de Vladimir Karpov, o representante russo que luta, principalmente, contra a Máfia do seu país, numa dicotomia abertamente nacionalista, quando comparada com as entidades policiais do resto da Europa e dos Estados Unidos.

No que concerne ao enredo, o mesmo afigurou-se-me original, em virtude da força descritiva que a narrativa transmite ao leitor, claramente transversal a todas as personagens, bem como aos locais por onde decorre a acção. Conforme acima referi, a própria mecânica dos crimes, bem como a autoria dos mesmos, revelando uma articulação de tal forma complexa que obriga a estender o trabalho de investigação criminal a vários pontos do globo, é também um dos focos de originalidade da narrativa.

O próprio facto de surgirem ao longo do enredo, incontáveis personagens ao ponto de se tornar difícil a memorização dos seus nomes e associação aos respectivos países, confere um ingrediente de desafio à leitura desta obra, mas por certo que, leitores ávidos de novas tramas, não se deixarão abater por semelhante desafio, podendo, alguns deles, estar já familiarizados com narrativas intrincadas ou as de origem escandinava que obriga a uma retenção mais refinada devido à toponímia.
A trama representa igualmente uma profunda reflexão sobre ética humana, principalmente a exploração da capacidade de gerir sentimentos tão poderosos como o ódio.

Em suma, Mord.Net é um livro estimulante, de enredo inteligente. Os mais cépticos poderão valorizar as já referidas extensas descrições do background das várias personagens face à componente dita policial, mas garanto-vos, este é um livro que todos irão apreciar.



1 comentário:

  1. Hmmm... Mais um para a lista, Vera.

    htto://vascoricardo.blog.com

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