quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Jeff Lindsay - Querido Querido Dexter [Opinião]


Eu não costumo ver muita televisão mas se há série que não perco um único episódio, esta é Dexter.
Com muitas saudades de Dexter (e com a recente estreia da 7ª temporada nos Estados Unidos), escolhi este livro, o segundo da série original em livro, para terminar o mês de Setembro.

Para quem não conhece, a saga é protagonizada por Dexter Morgan, um analista de sangue que trabalha no departamento forense da polícia de Miami. Embora acarinhado e respeitado a nível profissional (com excepção talvez pelo sargento Doakes) e a nível pessoal (a namorada Rita com um casamento traumático de onde resultaram dois filhos, Cody e Astor), há uma faceta muito íntima de Dexter, a que ele chama Passageiro das Trevas. E esta prende-se a uma faceta psicopata que Dexter desenvolveu desde tenra idade e o leva a matar pessoas que não fazem falta à sociedade.

Em Querido Querido Dexter, o nosso analista de salpicos investiga um novo caso de um  psicopata com um mórbido modus operandi, que será apelidado como Dr Danco. Nisto ainda tem que lidar com as desconfianças do sargento Doakes. Este é talvez, o único aspecto que se assemelha à série. a segunda temporada, divergindo na totalidade da história, incluindo desfechos de algumas personagens. Não existe nenhum Bay Harbour Butcher e a ameaça do livro advém precisamente de uma personagem exterior.

O livro, narrado na primeira pessoa, descreve como Dexter atenta nos vários pormenores do seu dia a dia, a escolha das vítimas e inúmeros flashbacks de episódios com Harry, o pai adoptivo, que lhe ensinou o Código, um conjunto de regras para não ser descoberto. As observações de Dexter são no mínimo espirituosas, dotada de um humor negro, que transpareceu facilmente na série, muito graças à genialidade do actor Michael C. Hall.

Custa-me distanciar da série, no entanto tentarei cingir-me aos aspectos do livro dignos de registo. 
Embora focado num serial killer, toda a trama é espirituosa, e de certa forma, descontraída. 
Se porventura, Lindsay descreve uma vítima que é submetida a uma remoção cirúrgica de membros, este fá-lo com uma graciosidade na escrita que não choca os leitores. Este é então o vilão pois em relação aos crimes de Dexter, com um grau de tortura muito inferior, digamos assim, e muito graças ao seu sedento poder de vingança, sente-se uma ironia muito própria.

Ler um livro da saga é como entrar na mente de um sociopata, perceber as motivações para um homicídio e as preocupações de limpar os indícios, mantendo sempre as aparências. Mas Dexter assume-se como um justiceiro, eliminando pedófilos e outros assumidamente mais criminosos do que o próprio. Ele encontra o equilíbrio em Deborah, a irmã adoptiva, ela própria um desastre em relações com o sexo oposto, embora neste livro pareça estar de bem com a vida e com o novo detective Kyle Chutsky,. E claro, Dexter sente-se equilibrado e aparentemente bem com Rita, a sua namorada (se bem que o sociopata tem grandes problemas com a palavra namorada e compromisso, sabendo de antemão que estes são os procedimentos a ter para se inserir bem na sociedade).

Rita é, como Dexter a descreve, "tão perturbada quanto ele". Muito devido aos maus tratos a que o ex-marido a submeteu. Embora no livro tenhamos muito pouco contacto com estes comportamentos, ao contrário de uma das temporadas da série televisiva, em que Paul efectivamente tem uma participação activa.

Não querendo de todo, dar nenhum spoiler, a relação de Dexter com os filhos de Rita, nas obras, mais íntima, até porque Dexter partilha várias características com Cody. Quer-me fazer parecer que a criança terá algum destaque nos livros doravante, pelos motivos menos óbvios e sobre os quais me inibo de comentar. Têm mesmo que ler os livros para perceber porquê, e acima de tudo, sentirem-se open minded para não se sentirem chocados com a diferença de Cody no livro e na série.

Quem é fã da série, não deixo de recomendar a saga que deu origem ao sucesso da ShowTime, alertando que os livros são mesmo diferentes da adaptação televisiva. O primeiro livro ainda apresenta algumas semelhanças, em relação a este, há um maior distanciamento. Talvez devido por ser diferente, acaba por ser também extremamente surpreendente! Apesar de abordar à primeira vista uma temática dura, não deixa de ser uma leitura compulsiva e estranhamente descontraída dentro do género. Recomendo vivamente!






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