domingo, 8 de setembro de 2013

Pedro Garcia Rosado - Morte na Arena [Opinião]


Sinopse: AQUI

Opinião: Quem não é utilizador da base de dados Goodreads desconhece que atribuí ao livro Morte na Arena, 5 estrelas, a classificação máxima deste sistema. Adianto ainda que classifico pontualmente os livros com estas 5 estrelas, a não ser que estes me cativem de uma forma especial e de facto, foi o que aconteceu com Morte na Arena.

Apesar de ainda ter explorado poucas obras do autor (realço que até hoje li os dois primeiros livros da colecção Não Matarás da ASA e Morte com Vista Para o Mar, a estreia das investigações do inspector Gabriel Ponte), os meus preferidos foram, sem dúvida, Morte com Vista para o Mar e A Cidade do Medo (ainda hoje me recordo do Sanitizador que queria limpar a cidade de Lisboa).
No entanto, na minha modesta opinião, ainda gostei mais do presente livro. Na realidade, nem consigo fazer um reparo no que menos gostei em Morte da Arena, pois simplesmente isso não existe.

O cenário é a cidade de Lisboa e o autor consegue por em perspectiva o roteiro correspondente aos locais do crime, tão familiares para mim, sustentados na base histórica do pós terramoto. Hoje, mais do que nunca, sinto-me curiosa em visitar as ruínas romanas na Baixa. Penso que fá-lo-ei em breve.
Um cenário propício para a recreação das lutas na Roma Antiga que tinham lugar nas arenas e constituíam um espectáculo para a civilização da época. Como tal é natural, havia alguma violência no âmbito destes combates, que acabam por ser descritos de uma forma bastante gráfica numa linguagem crua, que também se expressa na forma como o cadáver de Catarina Lemos vai "aparecendo", membro a membro. Tratando-se de uma adolescente, é sem dúvida um crime que irá chocar os leitores mais sensíveis.

A investigação debruça-se assim em dois casos de homicídio: o de Catarina Lemos e Jorge Orta, o polícia amigo de Gabriel Ponte, e devo dizer, com contornos bastante surpreendentes.
Enquanto isso, a narrativa entrelaça-se com a componente pessoal das personagens, em concreto, a da complexa relação entre os protagonistas Gabriel Ponte e a sua ex-mulher Patrícia Ponte, inspectora coordenadora da PJ e a jornalista Filomena Coutinho. Gostei que o autor tivesse revelado uma surpresa, no desfecho, em relação a esta última personagem, Filomena. Resta-me aguardar, com muita ansiedade, pelo próximo volume Morte nas Trevas (que chegará em Maio de 2014) para saber se a relação de Gabriel e Filomena será condicionada pela revelação. Não obstante, o livro brinda-nos com algumas páginas do próximo livro, deixando-me com água na boca para mais.

Com um papel mais secundário mas cuja participação é relevante, não posso deixar de mencionar a personagem Diabo. Ao que parece, não é uma personagem estreante nas obras do autor, tendo tido um merecido destaque numa obra mais antiga, Ulianov e o Diabo. Contudo, e infelizmente, não li o livro em questão até porque a minha busca pelas obras mais antigas tem sido infrutífera.
Este Diabo impõe respeito e esteve à medida de um cenário de homicídio tão tétrico como a arena.

A crítica à sociedade está presente, embora de uma forma mais subtil, tendo-me deixado a matutar sobre a possível analogia de Joaquim Silvano, ligado às Varas Criminais no Campus da Justiça com o julgamento nesse preciso local, de Carlos Silvino no âmbito do mediático Caso Casa Pia. 

Em suma, Morte na Arena revelou-se uma leitura assombrosa e um dos melhores títulos que li este ano, provando que a literatura policial portuguesa é de grande qualidade e capaz de ombrear com os pesos pesados da literatura policial europeia.


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