Opinião: Senti-me deveras curiosa quando comecei a ver fragmentos de fotografias alusivas a um livro na página de Facebook da Suma de Letras que foram sucedidos por vários posts contendo frases enigmáticas. A minha curiosidade espicaçou ainda mais perante a premissa do livro: "um jovem de 16 anos, morto, a quem lhe foi arrancado o coração na cidade de Västerås, Suécia".
É óbvio que, como fã acérrima dos policiais nórdicos, esperei ansiosamente pelo lançamento desta obra.
Recordo-me vagamente da minha conversa com Erik Axl Sund, durante a qual os autores me explicaram que, no contexto da literatura policial escandinava, não eram pioneiros na escrita a duas mãos, exemplificando com alguns nomes, entre os quais a dupla Hjorth e Rosenfeldt. Além disso, vim a descobrir que Rosenfeldt é o criador de uma das minhas séries preferidas, Bron/Broen.
Todo este background foi motivo, mais do que suficiente, para ficar radiante com a publicação da saga de Sebastian Bergman aqui também em Portugal e, a avaliar pelo primeiro livro, é uma série para seguir com a máxima atenção.
Alguns seguidores do blogue têm-me inquirido, ultimamente, sobre esta obra e aos quais tenho respondido que Segredos Obscuros é um policial nórdico de qualidade quando comparado com os seus congéneres. Com isto quero dizer que está repleto de personagens complexas, que oscilam entre os seus dilemas pessoais e o profissionalismo em deslindar o culpado da morte, no caso em apreço, de Roger Eriksson, um jovem de 16 anos que é assassinado impiedosamente. Os contornos desta morte são macabros pois envolvem uma profanação post-mortem, designadamente a remoção do coração. E, por fim, existe um equilíbrio entre os pormenores técnicos de uma investigação criminal e os tradicionais métodos de interrogatório. Neste livro, esta ultima componente assume um maior interesse, a meu ver, dada a tenra idade da vítima e o ambiente sócio-económico em que a mesma se inseria.
Não obstante outros aspectos, o que mais apreciei na obra foi, sem dúvida, o protagonista Sebastian Bergman. Acaba por ser atípico que este não seja um inspector mas sim um psicólogo criminal.
De carácter amargurado em consequência da perda da sua família aquando do tsunami na Tailândia em 2004 (e aqui notamos um elemento factual, na medida em que o mesmo ocorreu na realidade), Sebastian vai colaborar com a polícia e consegue, de certa forma, descortinar alguns mecanismos mentais de um homicida. Curiosamente este é apelidado pelo narrador como "o homem que não é um assassino", evidenciando a negação como um mecanismo recorrente em todos os que procuram uma desculpabilização ou desresponsabilização pelos seus actos.
Confesso que este tema me recordou alguma da matéria de Psicologia que tive oportunidade de estudar no meu 12º ano, sendo que, dentro dessa área o que mais me fascina é, precisamente, a psicologia criminal.
A par destes factos, sempre gostei de tramas que se desenvolvem a partir de um punhado de segredos, cujas revelações vão surgindo em catadupa não deixando de surpreender o leitor. Segredos Obscuros é pois um perfeito exemplo do quão bem funciona esta fórmula. Sabemos de antemão que a adolescência é uma fase algo tumultuosa e dada a segredos obscuros, como o próprio título indica, tornando a leitura bastante estimulante como se de uma verdadeira investigação se tratasse.
Em suma, Segredos Obscuros proporcionou-me uma leitura ávida, em pouquíssimos dias e uma vontade inexplicável de ler os seguintes volumes da série. A obra ofereceu-me um punhado de personagens tortuosas e um crime intrincado com contornos bastante intrigantes. Ahhh! E também uma viagem à Suécia sem sair de casa.
Recomendo vivamente esta obra. Os fãs de policiais escandinavos irão delirar!
Concordo inteiramente e partilho da mesma opinião, venham os próximos livros!
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