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Opinião do Ricardo: O desafio consistiu em ler um policial clássico, contudo,
deparamo-nos com um clássico, de certa forma, atípico, na medida em que o mesmo
foi escrito por vários autores, autores esses que constituíam The Detection
Club.
Segundo pude apurar, no prefácio da presente obra, da
autoria de Simon Brett, o actual presidente deste clube, The Detection Club foi
fundado em 1930 por vários escritores britânicos que, de um modo geral, se
dedicavam à escrita do género policial, incluindo alguns nomes mais sonantes
como Agatha Christie, Dorothy Sayers ou G. K. Chesterton, tendo este último
sido o presidente fundador.
As actividades do clube iam desde as meras tertúlias, até à
elaboração conjunta de contos policiais, tendo a obra, Quem Matou o Almirante,
publicada em Dezembro de 1931, sido uma das primeiras obras resultantes dessa
colaboração entre membros do clube.
No aludido prefácio tomamos, desde logo, conhecimento dos
estatutos do clube conforme foram decididos em 1930, os quais indicam que, todo o crime deverá ser resolvido sem
recurso a qualquer artifício, recorrendo-se unicamente à lógica, o que,
convenhamos, é um claro estereótipo presente na denominada literatura policial
clássica. Apercebemo-nos que este clube não se coibia de sublinhar esse
estereótipo, como o tornava obrigatório em todas as obras que fossem publicadas
sob a sua chancela.
Feita esta primeira análise, partimos então para a leitura
da obra com um prólogo, da autoria do primeiro presidente do clube, G.K.
Chesterton, seguido de doze capítulos escritos por treze membros do clube, isto
porque, o segundo capítulo foi escrito a meias do G.D.H. Cole e Margaret Cole,
um casal de escritores.
Cremos que um dos desafios desta leitura prende-se com
o facto de termos, em cada capítulo, uma forma diferente de escrever e isso
pode-se reflectir na própria leitura. Desse ponto de vista, podemos afirmar que
os capítulos escritos por Agatha Christie e Dorothy Sayers, bem como o capítulo
final da autoria de Anthony Berkeley foram lidos muito mais rapidamente do que,
por exemplo, o capítulo escrito por Ronald Knox, mas, tal facto será uma
necessária consequência de uma obra colectiva.
Ao longo da obra travamos então conhecimento com o caso, a
morte do almirante Penistone na pacata vila costeira de Whynmouth, cujo corpo é descoberto dentro de um barco à deriva no rio Whyn. O inspector Rudge, da
polícia local, é então encarregue do caso e à boa maneira clássica, este
inspector, vai seguir o modelo tradicional de investigação através de
interrogatórios às pessoas que, de uma forma ou de outra, privaram com a
vítima, seguindo algumas pistas falsas, outras verdadeiras, até chegar à
conclusão final e ao necessário desfecho que consubstancia o climax da obra.
Sem quaisquer laivos de contemporaneidade (por tal
entenda-se tudo o que implique uma investigação do foro laboratorial), Quem
matou o almirante é, sem dúvida, um polícial clássico na verdadeira acepção da
palavra. Por aqui ainda predomina a tradicional formulação do problema centrada
no who done it? ou seja, na
descoberta do autor do homicídio, assistindo-se a uma secundarização do why done it?
Recuperando um pouco da árvore genealógica da ficção
policial, considera-se o período entre as décadas de 1920 e 1950, como a idade
de ouro do who done it? antes da
complexificação do género policial e da passagem para a ribalta do why done it? que se mantém como peça
fulcral na literatura policial contemporânea.
Chamamos ainda a atenção para o final da obra onde cada um
dos autores envolvidos, apresenta o seu próprio final alternativo ao que foi
decidido por Anthony Berkeley , sendo de destacar o final alternativo de Agatha
Christie, bastante inovador e ousado para a época, bem como o final alternativo
de Dorothy Sayers, muito pormenorizado e surpreendente.
De um modo geral, é uma leitura fácil para quem gosta de
literatura clássica ou, para quem está habituado à literatura policial, embora
a obra em questão seja parca em terminologia criminal ou forense. Pelo motivo
já explanado, da diversidade de autores, é possível que alguns capítulos sejam
de leitura mais rápida do que outros.
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