sábado, 15 de agosto de 2020

Thomas Enger - Em Chamas [Opinião]

 
 
Sinopse: AQUI
 
Opinião: A partir do momento que tive conhecimento do lançamento do livro Ponto Zero, questionei-me como seria a obra escrita por Thomas Enger e Jorn Lier Horst. Eis um senão: ainda não tinha lido nada do primeiro autor (relativamente ao segundo, já estou algo familiarizada com o protagonista Wisting) pelo que tornou-se imperativo ler esta obra, há muito esquecida na estante.
 
Em Chamas é o primeiro volume protagonizado pelo jornalista em matéria criminal, Henning Juul, o que, à partida, poderia tornar a trama um pouco menos exigente. Um detective, o protagonista mais comum na literatura policial, apresenta uma maior destreza na resolução dos casos criminais ao passo que um jornalista possui um conhecimento mais genérico. Também os propósitos acabam por ser bastante díspares: a acção policial visa levar o antagonista à justiça enquanto que o jornalista apenas pretende noticiar o ocorrido. 
Consciente destes factos, estava, portanto, algo céptica quando iniciei esta leitura.

O facto é que Henning Juul é-nos apresentado como um homem traumatizado por um fogo que vitimou o seu filho e deixou mazelas físicas na sua cara. Tal ocorrência acaba por nos aproximar dele e, rapidamente, o meu receio por estar perante uma investigação de cariz mais amador, acabou por se desvanecer. Senti uma empatia e compaixão pelo protagonista, percepção que é explicada pelas longas passagens que aludem ao personagem. Tendo em mente que este é o primeiro livro de uma série, tenho também consciência que, para leitores mais impacientes como eu, tal introdução mais alongada poderá ser encarada como menos entusiasmante.

O ponto de partida desta investigação dá-se quando aparece uma jovem universitária, brutalmente mutilada, num parque. Os contornos do crime bem como a identidade do namorado da vítima, de origem paquistanesa, relaciona-os com um castigo imposto pela lei islâmica pelo que este título acaba por apontar, acima de tudo, as disparidades entre as duas culturas. Pelo que pude apurar, existe uma crescente comunidade muçulmana na Noruega e, tendo esse aspecto em mente, creio que a trama, embora seja ficção, pretende conduzir a uma reflexão sobre as leis da Sharia nestes países. 

É, portanto, uma obra que poderá não ser do agrado da grande maioria dos leitores devido, essencialmente, a estes dois pontos: uma análise sociológica pertinente e uma sobrecaracterização da personagem principal. 
Assumo-me fascinada pelos países nórdicos, pelo que não me senti incomodada com a abordagem social da trama. Os castigos e as penas muçulmanas impressionam-me muito e acabo sempre por revelar interesse neste tipo de narrativas alicerçadas nos detalhes sociológicos não obstante preferir histórias com maior enfoque no antagonista e análise da mente humana.

Daí considerar que, apesar desta leitura ter proporcionado um momento interessante, há outros autores nórdicos que se tornaram mais memoráveis. Ainda assim, tenciono ler Dor Fantasma para avaliar o progresso do autor e da série que, acredito ter ainda bastantes desenvolvimentos sobre o incêndio que envolveu Henning Juul e sua família.


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