Opinião: O Jantar é um livro interessante e organizado sob uma estrutura bastante original, desenrolando-se sobre as vertentes que constituem uma refeição: aperitivo, entradas, prato principal, sobremesa e digestivo.
Como a sinopse indica, a história cinge-se a uma reunião entre dois irmãos que decorre durante um jantar e que tem como objectivo tomar uma decisão sobre o que fazer perante uma situação provocada pelos filhos de ambos. Apesar da trama se passar no tempo em que decorre a refeição, o autor refere, por intermédio de flashbacks, algumas situações passadas que tornam consistente esta ocorrência. Contudo, o cerne da história que é, na minha opinião, a situação que despoletou esta reunião, não é imediata. O arranque é moroso e dispersa-se por entre inúmeras alusões gastronómicas.
Eis que chega a revelação da situação grave que os jovens protagonizaram. Devo fazer uma advertência aos leitores para que esta revelação seja de facto chocante: não leiam a badana do livro. Nesta consta uma breve alusão ao autor e na inspiração deste num caso verídico para O Jantar. Ainda assim, fico estupefacta com a maldade infligida no caso. E nesta obra, sendo uma situação provocada por jovens, assume proporções mais graves.
E a partir daí o caso muda de figura: as personagens deixam cair as máscaras e nada é o que parece. Acho que me vou privar de falar sobre estas pois acabam por constituir o segundo factor surpresa da trama.
O Jantar é uma trama complexa e sombria e explora uma questão muito pertinente mas também já abordada noutras obras de literatura: "Até onde vamos para proteger um filho?" No entanto poder-se-á dizer que a originalidade da obra reside no facto de haver demasiadas revelações que dispersam os nossos juízos de valor sobre as personagens.
Apesar de me ter mantido na expectativa durante a trama toda, fiquei algo desapontada com o clímax. Esperava um desfecho mais surpreendente do que o autor nos apresentou. Todavia este é coerente que lera até então.
Um livro que, por ser assente nos mecanismos psicológicos, mexeu comigo em certos momentos da narrativa. Constitui também uma importante advertência aos pais em como a desresponsabilização dos actos dos filhos é considerada um sinónimo de os amar incondicionalmente.
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